Morreu Djunga de Biluca, o homem que apresentou a morna ao mundo

17/04/2023 18:34 - Modificado em 17/04/2023 18:34

O corpo durou 94 anos, o legado durará para sempre. Morreu esta segunda-feira Djunga de Biluca, o eletricista cabo-verdiano que, a partir de Roterdão, fundou a ‘Morabeza Records’ e exportou a música de um arquipélago africano para o resto do globo. O ano passado, o Contacto escreveu a sua extraordinária história.

Noventa e quatro anos de uma vida cheia, é o mínimo que se pode dizer sobre João Silva, aliás Djunda de Biluca, um dos maiores impulsionadores da música de Cabo Verde pelo mundo. Nesta segunda feira, 17 de abril, às 16h50, morreu o homem que fundou a ‘Morabeza Records’ em Roterdão. Tinha 94 anos. “Sabíamos da sua idade avançada e da sua condição precária”, disse ao Contacto o sobrinho de Biluca, Carlos Gonçalves. “Mas custa sempre. Resta-nos a compensação de sabermos que ele viveu uma vida cheia.”

Biluca foi o primeiro cabo-verdiano a estabelecer-se na segunda maior cidade dos Países Baixos, foi o homem que organizou a enorme comunidade crioula que desembarcava há meio século em Roterdão, foi cônsul-geral na Holanda, Bélgica e Luxemburgo depois da independência da antiga colónia portuguesa. Em 1965, Djunga de Biluca fundou uma pequena editora independente, a primeira com selo de Cabo Verde. Em dez anos, a ‘Morabeza Records’ lançou 40 LPs e uma dezena de EPs que criaram uma pequena revolução.

O primeiro disco de Cesária Évora foi uma edição da ‘Morabeza Records’. Bana, rei da morna, também gravou aqui.  O angolano Bonga também gravou com a editora de Biluca o seu álbum de estreia, Angola 72. Nessa altura, já a ‘Morabeza Records’ se afirmava no mundo –e fazia-o em grande medida afrontando o salazarismo. A maioria dos discos estava proibida em Portugal e nas colónias, mas circulava na ondulação das marés e desembarcava clandestina nos portos do Atlântico.

“Isto começou tudo por causa do Amílcar Cabral”, contou ao Contacto numa reportagem publicada em 2022, e que foi aliás a última vez em que falou em público. “Eu tinha feito tropa portuguesa e depois decidi aderir ao PAIGC. Acreditava na luta da independência e propus a Cabral prepararmos a resistência na diáspora. E ele disse-me que o que nós precisávamos de fazer era afirmar a nossa cultura, porque um dia íamos ser independentes e precisávamos de saber quem éramos, de ter uma identidade.”

Hoje, morreu um símbolo de resistência e liberdade. Boa viagem, Djunga de Biluca. Recorde aqui a reportagem do Contacto.

www.wort.lu/pt

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