ONU chama atenção sobre um “crescimento extremamente perigoso da islamofobia”

23/10/2023 16:54 - Modificado em 23/10/2023 16:54
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O Alto-Comissário das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, Miguel Ángel Moratinos, alertou hoje para “um crescimento extremamente perigoso da islamofobia”, em especial na Europa.

“Omundo vive uma situação turbulenta e, em relação ao mundo muçulmano, com uma enorme confusão, ignorância, diria eu, do que é este mundo, e isso leva a estereótipos e clichés e atitudes que nem sempre são verdadeiras”, afirmou o representante.

Moratinos fez estas declarações depois de assinar na cidade espanhola de Córdoba um acordo de colaboração com a Fundação Las Fuentes, promovida pelo Conselho Islâmico de Espanha e pelo Instituto Halal.

O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol sublinhou que têm ocorrido “reações e provocações como a queima do Corão [livro sagrado da religião muçulmana], confrontos entre comunidades, tensões nas sociedades e uma vontade de projetar uma visão do mundo muçulmano que não corresponde nem à comunidade muçulmana nem à religião muçulmana”.

Para Moratinos, o islamismo, “como qualquer religião, deve cumprir as leis e a ordem constitucional do local onde vive e convive, mas, ao mesmo tempo, tem todo o direito, como qualquer outra, de exercer, como diz a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a livre expressão da sua religião, das suas crenças”.

Na opinião do político espanhol, “há muita ignorância” sobre esta matéria.”Se perguntarem à maioria dos cidadãos espanhóis qual é a diferença entre a Bíblia, a Torá [livro sagrado para os judeus] e o Corão, eles não saberiam, têm estereótipos, têm clichés, porque ninguém lê nada”, prosseguiu.

Para o representante, a situação atual no Médio Oriente “é um conflito político que tem muitas razões, muitos fatores, muitos elementos e derivados em que existem, logicamente, os sentimentos de cada uma das comunidades, mas não se trata de um choque de civilizações”.

No seguimento desta linha de pensamento, Moratinos apoiou as declarações do Alto Representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, o também espanhol Josep Borrell, que, segundo acrescentou, “teve razão em dizer que não se trata de uma crise entre o mundo cristão e o mundo muçulmano e que, por conseguinte, esta qualificação deve ser retirada do espírito, da ação, da justificação”.

Em todo o caso, argumentou, “o que existe é a necessidade de uma solução política definitiva onde dois Estados possam viver juntos em paz e segurança”.

O acordo hoje assinado entre o Programa das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações e a Fundação Las Fuentes vai promover a criação do Instituto Europeu do Património Islâmico.

“Porque temos a noção clara de que, com 25 milhões de muçulmanos na Europa e com países com uma longa tradição islâmica, era um pouco injusto que o património islâmico fosse deixado de fora da identidade europeia”, sublinhou a presidente da fundação, Isabel Romero.

A responsável anunciou que uma das três vias de trabalho que serão agora desenvolvidas é a criação de uma rede de medinas andaluzas na Península Ibérica.

As outras duas referem-se à gastronomia, através de um laboratório de alta cozinha andaluza, e às artes e ofícios “no seu sentido mais amplo”.

A Aliança das Civilizações é um órgão patrocinado pela ONU que promove o diálogo intercultural e inter-religioso e que já foi liderado pelo antigo Presidente português Jorge Sampaio.

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