O presidente da Associação de Pescadores de São Pedro disse hoje à Inforpress que a falta de peixe nos mares está a dificultar a vida das famílias na vila piscatória, com “várias dificuldades de subsistência, dia pós dia”.
Segundo Luís Delgado Andrade, dos 45 botes existentes na zona piscatória de São Pedro apenas cinco é que vão diariamente à faina por causa da falta de peixe, e os proprietários já não querem investir em combustível por causa da incerteza em ter o retorno.
“Normalmente os problemas em São Pedro são vários. Não só por falta de recursos marinhos como também outros problemas que estão a agravar-se dia após dia. Além da falta de formação, os pescadores já notaram que os recursos estão mais longe e mais escassos e a pobreza está a aumentar de uma forma brutal. Já fizemos vários encontros com instituições e não estamos a ver coisas a melhorar”, concretizou o líder associativo.
Conforme Luís Delgado Andrade, a falta de peixe começou a se fazer sentir desde os anos 2000, mas revelou que não sabe se foi provocado por problemas climáticos, por pesca ilegal ou pelos acordos de pesca que Cabo Verde tem com a União Europeia.
“Estamos num beco sem saída. Temos vontade de saber o porquê de o peixe estar a desaparecer ou porque é que temos que ir mais longe para encontrar peixe. Em São Pedro, neste momento, temos à volta de 45 botes e são cinco botes que vão pescar diariamente. Antigamente, as actividades de pesca, principalmente do atum, começavam desde o mês de Abril, mas estamos a ver que dia após dia começam mais tarde. Vejo muitas espécies a desaparecer”, adiantou.
Por causa da falta desses recursos, segundo a mesma fonte, cada vez há mais famílias a passar por dificuldades e jovens que antes viviam de pesca estão sem alternativas.
“Isso afecta a vida das famílias. Quando a pessoa não tem sustento para cobrir as despesas de água, electricidade, alimentação as famílias começam a sentir isso na pele. Estamos a sentir mais esta carência na comunidade”, acrescentou Luís Delgado Andrade, para quem, “a salvação da comunidade” tem sido a oferta de serviços de excursão a tartarugas para turistas.
“A excursão para ver e nadar com as tartarugas é uma das grandes alternativas de emprego principalmente para os jovens e se repararmos isso tem aumentado o número de turistas em São Pedro. É pena que não temos uma base de dados para saber quantos turistas chegaram aqui desde que iniciaram essa experiência”, informou o presidente da Associação de Pescadores de São Pedro, defendendo que a visita às tartarugas deveria ser feita de forma organizada para que cada proprietário de bote tirasse a sua receita e para que parte da mesma fosse revertida à comunidade.
A falta de peixe é também confirmada pelo antigo pescador Arnaldo da Luz, que é considerado um dos mais idosos nesta lide pesqueira, por ter iniciado aos 12 anos.
Segundo o mesmo, na década de 90 era mais fácil encontrar peixe perto de São Pedro, porque os recursos eram abundantes
“Antes, era mais fácil porque os peixes vinham muito próximo à praia e os apanhávamos em rede rasteira e rede de cerco. Agora, os peixes não aparecem, emigraram-se. Para apanhá-los os pescadores têm que ir para as ilhas de São Nicolau, Maio, Fogo, Brava, Boa Vista e Sal mas só com barcos de grande capacidade”, finalizou.
Inforpress/Fim