A espécie endémica de Cabo Verde cagarra está a “aumentar significativamente” no Ilhéu Raso e atingiu o número de mais de 8.000 pares reprodutores nos últimos cinco anos, conforme censo realizado pela organização ambiental Biosfera.
As informações foram adiantadas à Inforpress pela coordenadora do Departamento de Aves Marinhas da Organização Não Governamental (ONG), Isabel Fortes, que relatou o documento finalizado agora e que contém os dados recolhidos de 28 de julho a 17 de agosto últimos.
O censo, segundo a mesma fonte, foi realizado este ano só com a equipa da Biosfera, quando há cinco anos tinha sido feito com o apoio de pescadores, que, asseverou, têm sido um “elemento importante” para conservação e preservação da espécie
A técnica acredita que todo o esforço de proteção de Calonectris Edwardsii (nome científico dado à cagarra), iniciado em 2009, já está a ser recompensado e, prova disso, sustentou, é o aumento, de 6.544 pares reprodutores em 2018, para 8.471 pares agora em 2023.
“É um resultado inspirador e muito satisfatório e quer dizer que o trabalho de proteção está a surtir efeito”, regozijou-se Isabel Fortes, relembrando que a Biosfera, em parceria com outras instituições como Direção Nacional do Ambiente, conseguiu a proibição de captura da ave e hoje a população mantém-se “estável”.
Isto porque, há alguns anos, no ilhéu Raso, a espécie de ave marinha era capturada por pescadores para fins alimentares, levando a uma “forte redução” de indivíduos.
Mas, actualmente alguns dos antigos caçadores, como os pescadores da zona de Sinagoga (Santo Antão) que praticavam muito essa actividade, trabalham juntamente com a Biosfera, na parte de conservação e fazendo a contagem dos casais reprodutores.
“Depois de muitas campanhas de sensibilização e do trabalhar juntos, os pescadores têm contribuído muito para a essa protecção e, inclusive, por conhecerem bem os locais de nidificação, acabaram por ajudar os técnicos da Biosfera a encontrar esses lugares e permitir fazer essa contagem”, ressaltou Isabel Fortes.
A coordenadora do Departamento de Aves Marinhas asseverou que esse “junta mon” (juntar de mãos, em português) fez com que a cagarra esteja agora fora da lista das espécies de Cabo Verde em extinção, embora seja preciso continuar a vigilância.
A cagarra, espécie endémica do arquipélago, reproduz-se em exclusivo de março a novembro nas ilhas e ilhéus de Cabo Verde, excepto no Maio, Santa Luzia e nos ilhéus Rabo-de-Junco, localizado a norte da ilha do Sal, e Curral Velho, na Boa Vista.
Os ilhéus Raso e o Branco, por seu lado, são as áreas mais importantes para a nidificação.
Após a iniciativa de conservação, em 2009, a Biosfera registou, no censo de junho de 2014, uma estimativa 4.529 casais reprodutores no Raso, número que tem vindo a aumentar.
Inforpress