Guterres vê fim do acordo de cereais como “um rude golpe em todo o mundo”, lembrando ainda que a participação no acordo é uma opção, mas que os países em desenvolvimento não têm escolha.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse esta segunda-feira que centenas de milhões de pessoas vão pagar pela decisão da Rússia de romper com o acordo de exportações de cereais pelo Mar Negro.
“Centenas de milhões de pessoas estão a passar fome e os consumidores estão a enfrentar uma crise global de aumento de custo de vida”, disse Guterres em declarações a jornalistas, acrescentando que a decisão russa “vai ser um rude golpe nas pessoas necessitadas em todo o mundo”.
“Lamento profundamente a decisão da Federação Russa de encerrar a implementação da Iniciativa do Mar Negro, incluindo a retirada das garantias de segurança russas para a navegação no noroeste do Mar Negro”, disse o secretário-geral das Nações Unidas, no dia em que expira a validade do acordo.
Guterres defendeu que a participação neste acordo “é uma escolha”, mas lembrou que “as pessoas que lutam em todos os lugares e os países em desenvolvimento não têm escolha”.
O secretário-geral da ONU assegura que não desistirá perante esta decisão russa, garantindo que ela “não impedirá os esforços para facilitar o acesso sem entraves aos mercados mundiais de produtos agrícolas e fertilizantes tanto da Ucrânia como da Rússia”.
Para Guterres, a segurança alimentar e a estabilidade dos preços dos alimentos vão continuar no centro dos seus esforços, “tendo em conta o aumento do sofrimento humano, consequência inevitável da decisão de hoje”.
Guterres também disse estar desapontado com o facto de uma sua carta enviada na semana passada ao Presidente russo, Vladimir Putin, na tentativa de encontrar uma solução para este problema, ter sido ignorada.
A carta, cujo conteúdo exato não foi divulgado publicamente, propunha que uma subsidiária do principal banco agrícola russo, cujas atividades são prejudicadas pelas sanções, fosse de novo ligada ao sistema bancário global SWIFT, após um acordo nesse sentido com a Comissão Europeia.
Embora a Rússia assegure que não foram cumpridas as condições que estabeleceu para a continuação do acordo sobre os cereais, em particular a parte relativa às suas próprias exportações de alimentos e fertilizantes, a carta de Guterres também insistia na necessidade de avanços nessa matéria.
A Rússia suspendeu esta segunda-feira o acordo de exportação de cereais pelo Mar Negro a partir de portos ucranianos, argumentando que os compromissos assumidos em relação à parte russa não foram cumpridos.
“O acordo dos cereais está suspenso”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, durante a sua conferência de imprensa diária por telefone.
“Quando a parte do acordo do Mar Negro relacionada à Rússia for cumprida, a Rússia retornará imediatamente à implementação do acordo”, afirmou Peskov.
O porta-voz do Kremlin declarou que o ataque das últimas horas contra a principal ponte que liga a Crimeia ao continente russo não foi um fator para a decisão da suspensão do acordo.
Lusa