O antigo instrutor da capoeirista Mayra Duarte, conhecida por “Florzinha”, medalha de ouro no Jogos Europeus de Capoeira, em Lisboa, disse hoje que essa conquista trouxe uma “onda de orgulho a Cabo Verde”.
O instrutor Anderson da Cruz, também conhecido por “Dumbo”, com 18 anos dedicados ao desenvolvimento da Capoeira na Boa Vista, expressou a sua imensa satisfação pela vitória da sua aluna e afirmou que a medalha de ouro conquistada por Mayra Duarte também “chama a atenção para a realidade da falta de apoio ao potencial desportivo”.
“É através desse trabalho, de todo esse tempo, que veio surgir esse fruto e, pela primeira vez na história de Cabo Verde, nós temos um campeão europeu de Capoeira”, afirmou Dumbo.
O instrutor indicou que este ano abriram uma excepção na competição e convidaram a África a participar na competição europeia, onde se destacaram alguns atletas cabo-verdianos como a “Florzinha”, que foi campeã na categoria cor de laranja e azul, e a sua irmã, Josyenne Duarte, “Flor”, que ficou no quarto lugar da sua categoria.
Contudo, apesar do potencial do cabo-verdiano na capoeira, a nível mundial, Dumbo lamenta o fato de não terem recursos para viajar sempre para competições.
“Todos os anos temos competições, mas grandes atletas aqui em Cabo Verde não conseguem ir competir por causa da parte financeira. Às vezes bons atletas ficam para trás, vão os que têm melhores condições financeiras, porque ninguém te apoia, e cada pessoa tem de comprar essa passagem para ir competir”, lamentou o instrutor.
Dumbo trouxe ainda a problemática da questão de vistos, indicando que além dos atletas de São Vicente, Santiago e Sal, havia uma comitiva de 10 atletas da Boa Vista, que sequer conseguiram vaga para agendamento.
“Infelizmente, foi-nos negado o visto pelo Centro Comum de Visto, tentámos várias vezes e disseram que não tinham vaga para o agendamento, pedimos na Balcão Azul como atleta, com documento e a carta de convite, para mostrar que íamos participar, ainda pediram uma declaração da câmara municipal (…) enviamos, mas mesmo assim, não disseram nada positivo no e-mail, só que tinham vaga”, conta Dumbo.
O instrutor e atleta considera que se tivessem conseguido o visto, com certeza iam trazer mais medalhas e conquistas para “casa”.
O mesmo reafirmou que Cabo Verde tem “grande potencial” a nível de atletas, mas que o Governo “não ajuda muito” nessa parte, e “o pouco com que apoiam” é mais a nível do futebol, porque em termos de outras modalidades como artes marciais, não há tanto apoio, e capoeira menos ainda, e isso desmotiva.
“Florzinha” foi ainda reconhecida pelo melhor jogo de Benguela e de São Bento Grande, Nailton da Luz “Pirralho”, e o instrutor Vady “Macaco Branco”, de São Vicente representaram Cabo Verde, chegaram aos quartos de final, Joelson Garcia “Escuridão” também garantiu o quarto lugar na sua categoria.
Os Jogos Europeus aconteceram de 17 a 21 de Abril, na cidade de Lisboa, e participaram cerca de 600 capoeiristas de mais de 20 países, entre eles Brasil, Cabo Verde e Angola.
MGL/HF
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