Opinião – Candidato do Povo versus Candidatos da Elite do Partido

20/02/2025 23:53 - Modificado em 21/02/2025 00:03

Por Odailson Bandeira

Quem, afinal, é o Candidato do Povo?! O Candidato da Elite não será quem tem o Poder e o apoio do Poder nas mãos?


Antes de tudo, queria, de forma aberta, congratular-me com o modo com que as candidaturas do Francisco Pereira e do Jorge Spencer Lima se têm pautado, com elegância, ponderação, tranquilidade, respeito pelos demais candidatos e, atrevo-me a dizer, de forma discreta e sorrateira.

Por outro lado, temos as candidaturas do Francisco Carvalho e do Nuias Silva, digamos, candidaturas mais “pomposas” e mais “quezilentas”, que têm, de algum modo, suscitado uma intensa troca de argumentos, essencialmente, nas redes sociais.

Todavia, pelo que tenho me apercebido nas redes sociais, nas notícias e nas intervenções públicas, estou em crer que, comparando esses dois últimos candidatos, o Nuias tem evidenciado algum recato no seu comportamento e nos discursos, mostrando prudência e cautela, visando manter um clima de alguma cordialidade, mas fundamentalmente, preocupado em “pescar” e congregar no seu projeto, militantes-eleitores em todas as sensibilidades, em todas as classes sociais e em todas as faixas etárias.

Do outro lado da barricada, pelo menos a “claque” do Francisco Carvalho, tem recorrido, de forma sistemática, à uma narrativa do “Nós” contra o “Eles”, em que o “Nós” simboliza o “ BEM” (humildade, honestidade, salvação, divindade…) e o “Eles” corresponde ao “Mal” (interesseiros, agarrados ao poder, velhos, elite…). Isto é, assumem que o candidato que eles apoiam é o “HOMEM” do momento e é o único capaz de ser Presidente do PAICV, porque é o candidato do POVO e os outros candidatos são da Elite do PAICV.

Ora, esta narrativa divisionista e separatista, para além de ser peregrina e perigosa para aquilo que são os objetivos eleitorais do PAICV, coloca em causa a famigerada UNIÃO do partido. Não é difícil compreender que uma hipotética VITÓRIA do PAICV nas próximas Eleições Legislativas, depende da aglutinação “Nos” + “Eles”. Contrariamente, caso seja, “Nos” – “Eles” = DERROTA!

A propósito dos argumentos dos apoiantes do suposto “Candidato do Povo”, julgo que não é difícil enxergar alguns factos que contradizem tais narrativas. Ora, vejamos:

  • O “Candidato do Povo” não é um simples pescador, agricultor, artesão, ou carpinteiro…mas sim, é o Presidente da Câmara do Município mais importante e mais populoso de Cabo Verde, que alberga a Capital do país, e logo está investido de muito poder e influência;
  • O “Candidato do Povo” é apoiado/suportado politicamente pela pessoa que foi presidente do PAICV de 2014 a 2021 e que, ainda, exerce uma forte influência em todas as estruturas do Partido;
  • O “Candidato do Povo” é apoiado/suportado politicamente por um número considerável de Deputados Nacionais (principalmente os que iniciaram as funções em 2021);
  • O “Candidato do Povo” é apoiado politicamente por alguns dos atuais Presidentes das Câmaras Municipais suportadas pelo PAICV;
  • O “Candidato do Povo” tem o apoio político de alguns membros das estruturas regionais, inclusive do Presidente da CPR-ST Sul;
  • O “Candidato do Povo”, numas simples eleições internas, já contratou especialistas brasileiros em marketing e propaganda política;
  • O “Candidato do Povo”, tem pessoas de plantão nas redes sociais, 24 horas seguidas, a combater os que não o apoiam, o que suscita dúvidas em relação à gratuitidade deste trabalho;
  • O “Candidato do Povo”, dispõe, igualmente, de pessoas auto-denominadas de “Ativistas do Povo” fazendo “LIVES” propagandistas, 24 sobre 24 horas, o que, de igual modo, provoca dúvidas no que tange à gratuitidade desta “colaboração”, que requer tempo e recursos;

Ou seja, afinal, facilmente se depreende que o “Candidato do Povo” tem, também, uma boa parte da ELITE do partido junto dele e, consequentemente, uma fatia significativa do Aparelho do PODER do PAICV. E isto não se afigura problema nenhum, uma vez que se trata de algo naturalíssimo! Daí, que essa narrativa não faz nenhum sentido e serve apenas para dividir os militantes em duas castas distintas, sendo, segundo eles, uma casta do BEM e uma casta do MAL.

Portanto, não é possível projetar um Cabo Verde para TODOS, quando sequer está-se a equacionar um PAICV para TODOS!

Por fim, sabendo da limitação dos recursos que Cabo Verde enfrenta, convém que todos os militantes reflitam sobre algumas propostas populistas e demagógicas, que o país não suporta, por exemplo:

  • Acesso gratuito à saúde e à medicamentos, para todos! Ainda, os Cabo-verdianos estão a lembrar da proposta do MpD em 2016, onde prometiam imposto zero?
  • Universidade gratuita para 70% da camada menos favorecida! Ainda, todos estamos a lembrar da promessa do MpD, que visava criar 45 mil postos de trabalho dignos?
  • Passagens de transporte marítimo e de avião dentro do país, por apenas 500 e 5000 escudos, respetivamente, independentemente da ilha de origem e de chegada! Todos estamos a lembrar da promessa do MpD em construir um anel rodoviário e um aeroporto internacional em Santo Antão, tudo isso em apenas um mandato de 5 anos?

Convenhamos! Não se pode pretender, apenas ganhar eleições! É preciso que o PAICV se posicione como uma alternativa de governação, alicerçado em um projeto ambicioso mas realista, prenhe de seriedade e responsabilidade. É demasiadamente cristalino que, neste momento, o POVO deste país já não quer o MPD no Governo, mas, também, não quer um PAICV qualquer.

Todos os militantes, estão convocados, sem paixões e nem emoções, sem fanatismo e nem radicalismo,  mas sim com a razão e sapiência, para eleger o Presidente que o PAICV merece, de modo que brevemente, seja possível construir um Melhor Cabo Verde!

Cidade do Mindelo, aos 20 de Fevereiro de 2025

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