Joana Alves, de 53 anos, mora há 27 anos em Chã de Faneco, em Ribeirinha, na ilha de São Vicente. Conhecida por muitos na comunidade, sua vida é uma rotina diária de luta, trabalho árduo e superação. Joana desde sempre foi mãe e pai dos dois filhos já crescidos. Uma vida de desafios constantes para garantir o sustento da família, conforme contou ao Notícias do Norte.
“Vendo cuscuz para desenrascar”
Há cinco anos, Joana encontrou na venda de cuscuz uma maneira de complementar o salário mínimo que recebe como funcionária de limpeza em uma padaria local. “O que ganho no emprego não dá para sobreviver,” diz ela com um suspiro, explicando que a venda de cuscuz é uma solução para cobrir despesas básicas, como um quilo de arroz ou uma garrafa de gás butano.
Seu cuscuz, feito de maneira tradicional, é vendido aos domingos, seu único dia de descanso. “Trabalho todos os dias sem um dia de descanso. O meu cuscuz é bem feito, de forma tradicional, por forma a ter o gosto que as pessoas gostam,” explica Joana, detalhando as variedades que prepara, desde farinha de mandioca a purê de batata e até versões com canela.
“O preço é justo, mas muitos acham caro”
Cada fatia de cuscuz custa 65 escudos. Apesar do preço, que alguns consideram alto, a qualidade é inquestionável. “Todo o processo acontece pela manhã. Começo às 5h e às 7h já tenho dois bindes de cuscuz,” comenta Joana, destacando a dedicação e o esforço matinal para garantir a frescura do produto.
Além do cuscuz, Joana também se aventura na culinária de outros doces e salgados e ainda costura carteiras de fazenda. No entanto, a falta de tempo impede-a de participar em feiras de artesanato.
“Faço essas coisas para poder complementar meu salário,” disse, agradecendo por ter casa própria e lamentando que, mesmo com esforços adicionais, “nem sempre o dinheiro dá para muita coisa, pois é tomar com uma mão e entregar com outra mão.”
“Ser mãe e pai ao mesmo tempo não é fácil”
Joana é mãe e pai dos seus filhos desde que nasceram, enfrentando sozinha as adversidades de criar e sustentar uma família. “Continuo lutando e fazendo o que posso,” afirmou com determinação.
Contudo, os desafios são constantes e, muitas vezes, trágicos. Recentemente, seu filho mais novo foi assaltado a caminho do trabalho e esfaqueado duas vezes, um episódio que trouxe ainda mais dor e preocupação para a já sobrecarregada Joana.
Apesar de todas as dificuldades, Joana mantém a esperança e a fé. Sua história é um retrato da resiliência e da força de uma mulher que, dia após dia, batalha para proporcionar um futuro melhor para seus filhos e para si mesma.
“É lamentável que nestes novos tempos muitos filhos não valorizam o esforço dos pais,” reflete Joana, um lembrete das lutas silenciosas de tantas mães e pais pelo mundo afora.
AC – Estagiária