China é o país com o maior número de jornalistas detidos

3/05/2023 14:01 - Modificado em 3/05/2023 14:01

A China é o país com o maior número de jornalistas detidos, 158, dos quais 56 em Hong Kong, adiantou hoje em Londres a representante da organização não-governamental (ONG) Repórteres sem Fronteiras (RSF) no Reino Unido, Fiona O’Brien.

A situação contribuiu para a penúltima posição da China na 21.ª edição do ‘ranking’ mundial da liberdade de imprensa da RSF, publicado hoje por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, assinalado esta quarta-feira.

A China desceu quatro lugares, para a 179.ª posição, na lista composta por 180 países, ficando apenas acima da Coreia do Norte.

“Esta é a posição mais baixa que a China alguma vez teve no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa. Há muito tempo que está no fundo, mas este é o pior”, afirmou O’Brien, numa conferência de imprensa.

Atualmente, segundo detalhou a representante, estão detidos 102 jornalistas ou trabalhadores de meios de comunicação social na China, número que sobe para 158 se forem incluídos os profissionais presos em Hong Kong.

De acordo com Fiona O’Brien, Hong Kong é um ótimo exemplo de como a China está a usar a legislação como uma arma para silenciar os jornalistas.

“A introdução de uma lei de segurança nacional em 2020 reduziu absolutamente a zero a imprensa independente em Hong Kong, o que é particularmente triste porque Hong Kong tinha um ambiente mediático muito vibrante, era conhecido como um dos mais vibrantes da região”, afirmou.

Também presente na mesma conferência de imprensa, o editor do serviço em chinês da estação pública britânica BBC, Howard Zhang, afirmou que “ainda existe um pouco de liberdade de imprensa” para os meios de comunicação que dêem também notícias positivas sobre o país.

Porém, Howard Zhang admitiu que “o espaço está a tornar-se cada vez mais estreito”, referindo-se às restrições a vistos para jornalistas estrangeiros e à ameaça que representa uma nova lei de espionagem.

Zhang acredita que Macau tem sido poupado porque naquele território “têm sido bastante conformistas nas últimas décadas, colaborativos” com o regime.

“Estão mais interessados em fazer dinheiro [com a indústria do jogo] e não em expressar opiniões, por isso não têm sido tão incomodados”, respondeu Howard Zhang, quando questionado pela agência Lusa.

O relatório da RSF – que analisa a situação em 180 países ou territórios – diz que a situação é “muito má” em 31 países, “má” em 42 países, “problemática” em 55 e “boa” ou “razoavelmente boa” em 52 países.

Pelo sétimo ano consecutivo, a Noruega aparece como o país com melhor ambiente para o jornalismo, mas o segundo lugar não é ocupado por um país nórdico (o que é invulgar em relação às recentes edições do inquérito), surgindo aí a Irlanda, que subiu quatro posições, ficando à frente da Dinamarca.

Portugal aparece em nono lugar, a primeira posição no patamar dos países com a classificação de ambiente “razoavelmente bom”, a uma posição do patamar de “bom”, atrás da Estónia e à frente de Timor-Leste, Liechtenstein e Suíça.

Nos três últimos lugares do ‘ranking’ da RSF aparecem apenas países asiáticos: Vietname (um país acusado de ter expulsado todos os jornalistas independentes), China e Coreia do Norte (que é considerado um dos maiores exportadores de propaganda).

O relatório revela ainda que o cenário de desinformação global tem sido favorável para o aumento de propaganda na Rússia, que aparece no lugar 164.º da lista, depois de cair nove lugares no último ano.

Os Estados Unidos também caíram três posições nos últimos 12 meses, com registo de um ambiente mais problemático para os jornalistas a nível da imprensa regional, nomeadamente por causa de situações de violência sobre repórteres.

“O Índice Mundial de Liberdade de Imprensa mostra uma enorme volatilidade, com grandes subidas e quedas e mudanças inéditas, como a ascensão do Brasil à 18.ª posição e a queda de 31 lugares do Senegal. Essa instabilidade é resultado do aumento agressividade por parte das autoridades em muitos países e da crescente animosidade contra jornalistas nas redes sociais e no mundo físico”, comentou Christophe Deloire, secretário-geral da RSF.

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