Setenta crianças de uma aldeia do sul do Níger sofrem de malformações graves depois de terem bebido água com elevado teor de flúor, noticiou a televisão estatal na quinta-feira à noite, avançou hoje a France-Presse.
As crianças, com idades entre os dois e os 10 anos, vivem na aldeia de Dadin-Kowa, na região de Maradi, e “sofrem de malformações dos membros”, que “resultam do facto de terem bebido água de um furo com excesso de flúor”, segundo a estação de televisão.
Este furo foi construído em Dadin-Kowa por “um parceiro humanitário” que “não envolveu os departamentos competentes na construção desta estrutura hidráulica”, segundo uma reportagem televisiva produzida durante uma visita do ministro da Saúde, que se deslocou para ver as crianças.
Segundo a reportagem, das 70 vítimas, sete foram “operadas com sucesso” e 23 outras deverão ser operadas em breve.
Durante décadas, Dadin-Kowa foi afetada por graves inundações que engoliram o único poço da aldeia, privando temporariamente os seus habitantes de água potável, de acordo com fontes locais.
Em 2001, o Níger foi abalado por um escândalo semelhante envolvendo crianças contaminadas com flúor.
Neste ano, o centro de saúde de Tibiri, outra aldeia da região de Maradi, contabilizou 4.918 rapazes e raparigas que sofriam de várias malformações causadas por níveis excessivos de flúor na água distribuída entre 1985 e 2000 pela empresa pública de gestão da água.
O drama das “crianças de Tibiri” foi revelado pela Associação Nigeriana de Defesa dos Direitos do Homem (ANDDH), que tinha sido alertada por médicos preocupados com o número crescente de casos de malformações graves em crianças com idades compreendidas entre os 15 meses e os 15 anos: pernas e costas arqueadas, cabeças grandes e ossos fracos.
Um outro inquérito efetuado em 2002, encomendado pela Federação Internacional dos Direitos do Homem (FIDH), confirmou “níveis de fluoreto superiores a 3 mg/litro e, por vezes, até 6,4 mg/litro”, muito acima da norma da Organização Mundial de Saúde de 1,5 mg/litro.
A FIDH acusou a direção da empresa pública de “esconder este envenenamento do público”.
Em outubro de 2018, em cumprimento de uma decisão judicial, as autoridades nigerianas anunciaram a disponibilização de dois mil milhões de francos CFA (três milhões de euros) para compensar as vítimas de Tibiri.
No Níger, um vasto Estado desértico, um em cada dois habitantes não tem acesso a água potável.
Em Niamey, a capital, com mais de 1,5 milhões de habitantes, há bairros inteiros que sofrem de falta de água que pode durar um dia inteiro. Nestes casos, os habitantes têm de recorrer a furos privados para reabastecer as suas reservas.
LUSA