No âmbito da 25ª edição do Festival Internacional de Teatro do Mindelo – Mindelact, a Companhia da Chanca apresentou, no sétimo dia do festival, um espetáculo que descreve, sem palavras, o isolamento e vontade de viver de um casal de idosos de uma aldeia do interior de Portugal. A peça é interpretada por André Louro e Catarina Santana.
“Sitio” fala de um casal de idosos que vive numa aldeia no interior de Portugal e que recebe um postal a anunciar o nascimento do seu neto, no estrangeiro, a quem os avôs enviam uma prenda, mas no caminho até à estação de correios, o casal acaba por viver “uma série de pequenas e ternas aventuras”.
A peça é segundo os atores, “um olhar sobre a aldeia onde moramos”. Há seis anos, André e a mulher, Catarina Santana, decidiram mudar-se para o interior do distrito de Coimbra, para a pequena aldeia da Chanca, com 40 habitantes.
“Isto foi a nossa forma de olharmos para os nossos vizinhos. Vimos aquelas pessoas que sempre moraram ali, simples, com enorme sentido crítico da vida e com enorme poder de conseguir as coisas, de lutar por elas e de se desenvencilharem sozinhas. Muitas vezes os idosos estão sozinhas e têm que se governar por si próprias e isto é um olhar sobre a vida da aldeia”, explica André Louro, que participa pela primeira vez no Mindelact.
Um espetáculo físico, sem texto, com recurso à manipulação de objetos e à expressividade do corpo através do uso da máscara larvar que dá origem a muitas interpretações por parte de quem assiste e sente a peça.
“Todo texto passa por aquilo que fazemos com o corpo, as expressões corporais e neste espetáculo usamos várias técnicas. A poesia do gesto e mistura de várias técnicas, deste as expressões mimicas, passando pelo teatro mudo, a banda desenhada e este foi o resultado daquilo que trabalhamos ao longo de vários anos e fomos aperfeiçoando, misturado com esta vida na aldeia”, conta Catarina Santana.
Questionado sobre a participação no festival Mindelact, a atriz diz que saem de cena de coração cheio. “O ambiente aqui é fantástico. É um festival onde todos os grupos e profissionais podem ver uns aos outros, o que acontece cada vez menos no mundo, em que todos se apresentam e depois vão embora”.
Por isso, diz que saem daqui mais “apetrechados” para continuar a trabalhar e, quem sabe, voltar numa próxima ocasião.
A Companhia da Chanca é uma companhia de teatro profissional fundada em 2015 por dois artistas lisboetas que decidem deslocalizar a sua atividade para o interior de Portugal. Esta mudança do contexto sócio cultural onde a companhia está sediada reflete-se no trabalho e pensamento artístico, nomeadamente no seu espetáculo de estreia, Sítio.
A Companhia da Chanca tem apresentado as suas produções não só no circuito dos grandes centros culturais do país como em espaços não convencionais nas aldeias e instituições, tentando sempre estabelecer uma relação de estreita proximidade com os seus públicos.
Elvis Carvalho