Primeiro o The New Times e logo de seguida a New Yorker. Com duas longas peças a documentar dezenas de episódios de assédio, o segredo que não era segredo algum para meia-Hollywood começou a chegar ao grande público. E, com ele, o império de Harvey Weinstein começou a ruir.
O produtor acabou afastado da Weinstein Company, empresa que fundara e que nas últimas décadas se tornou responsável por vários filmes premiados nos Óscares da Academia.
A mesma Academia que tantas vezes o premiou acabou por expulsá-lo. E a mesma Hollywood onde o seu poder se fez sentir acabou a expô-lo à medida que atrizes como Gwyneth Paltrow, Angelina Jolie, Asia Argento, ou Lupita Nyong’o vieram a público contar as suas histórias. Mas esta era apenas a primeira parte de um fenómeno muito maior, que já é conhecido como o ‘efeito Weinstein’.
O escândalo varreu Hollywood e chamou a atenção. Entre as várias reações, Oprah Winfrey, que no passado já falara do abuso sexual de que fora vítima, ainda com nove anos de idade, foi profética ao dizer que “toda a gente tem uma história”.
“Se fizermos com que isto seja só sobre Harvey Weinstein, então teremos perdido a oportunidade”, afirmou. Mas a oportunidade não parece ter sido perdida.
Atrás da porta entreaberta acumulavam-se histórias de mulheres (e também de homens, como a do ator Terry Crews). O mundo já sabia das suspeitas de décadas sobre Bill Cosby e tinha ouvido a polémica gravação de Donald Trump e o seu “grab them by the pussy”, Mas desta vez foi diferente. E, no espaço de semanas, a mesma porta entreaberta que escondia os casos de assédio sexual acabou escancarada.
Nas redes sociais começou a circular uma hashtag, #MeToo (“Eu também”), que dava o mote para que outras pessoas revelassem episódios de assédio sexual de que tivessem sido vítimas no passado.
Havia muito mais ‘Harvey Weinstein’ por descobrir
No Twitter, a autora Anne T. Donahue foi uma das que aproveitou o mote e contou a sua história de insistentes e rejeitadas tentativas de massagens do seu patrão quando era estudante e estagiária numa rádio, tinha na altura 17 anos.
“Quando conheceram o vosso Harvey Weinstein? Eu começo”. Foi desta maneira que lançou a questão, no dia em que o New York Times revelou as histórias do passado do produtor de Hollywood. As respostas chegaram-lhe em catadupa, com centenas e centenas de mulheres a contar casos de assédio sexual, nos mais diversos empregos, nos mais diversos setores.
Entretanto, o Los Angeles Times revelou que mais de 30 mulheres contaram episódios de assédio por parte do realizador James Toback. O realizador abordava jovens nas ruas e oferecia-lhes a hipótese de chegarem a Hollywood e falava-lhes de filmes em que tinha tido sucesso. Os alegados abusos aconteciam num posterior casting com a aspirante a atriz.
A mesma história foi contada por várias mulheres, sempre com a mesma ‘deixa’ por parte de James Toback. E a ‘deixa’ repetia-se, mesmo quando não funcionava. Julianne Moore revelou, entretanto, que foi abordada desta mesma maneira ainda nos anos 80, muito antes de vencer o seu Óscar de melhor atriz e de ser a atriz conhecida que é hoje em dia.
Toback tentou uma vez, na rua, e foi rejeitado. Um mês depois voltou a encontrar a atriz por acaso e tentou mais uma vez. “Não te lembras que já tentaste isto antes”, ter-lhe-á perguntado a atriz, que juntou a sua voz à de muitas outras: e são já mais de 200 que acusam agora o realizador.