O artista plástico e um dos mentores do antigo Centro Nacional de Artesanato faleceu hoje, no Mindelo, aos 85 anos.
Manuel Figueira, natural de São Vicente, forma-se em Belas-Artes na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa e, em Janeiro de 1975, alguns meses antes da independência, regressa a Cabo Verde, acompanhado da mulher, Luísa Queirós, com quem, conjuntamente com Isabel (Bela) Duarte, inicia dois projectos marcantes para o panorama das artes plásticas no arquipélago: a Cooperativa Resistência e a galeria Azul+Azul=Verde.
Igualmente importante para a consolidação das artes plásticas cabo-verdianas foi a sua passagem como director do Centro Nacional de Artesanato, sediado, como as instituições anteriores, na cidade do Mindelo.
Tchalé Figueira, também artista plástico, através da sua página no Facebook, realçou que o seu irmão deixou como herança um “património imenso” à cultura cabo-verdiana.
Uma das últimas aparições de Manuel Figueira em público aconteceu no ano passado, no Mindelo, quando a sua obra serviu de inspiração para o painel de “Grandes conversas” da Feira de Artesanato e Design – URDI e que teve por tema o “Universo criativo de Manuel Figueira”.
Durante a actividade, o crítico de arte português António Pinto Ribeiro exortou as autoridades cabo-verdianas a pensaram na produção de um catálogo que pudesse preservar a obra do artista plástico de “referência internacional”.
Para António Pinto Ribeiro, o co-fundador do antigo Centro Nacional de Artesanato (CNA), juntamente com Luís Queirós e Bela Duarte, era um “artista múltiplo” de referência não só em Cabo Verde, mas também na costa oeste africana e em Portugal.
Sendo assim, asseverou, era preciso tomar a iniciativa enquanto ainda havia possibilidade de trabalhar com Manuel Figueira na recolha, identificação, inventário das obras e da sua biografia.
Por seu lado, o antropólogo cabo-verdiano Manuel Brito Semedo, outro dos oradores do painel, classificou Manuel Figueira como uma “grande figura” a quem se pode fazer uma homenagem ao ouvir falar da sua obra.
O artista plástico, que esteve presente durante todo o debate, assegurou que não estava mais apaixonado pela sua profissão, mas ainda continuava a trabalhar.
Confirmou ainda ser um “observador” de pessoas e de coisas retratadas na sua obra.
asceu em 1938, na ilha de S. Vicente, Cabo Verde. Viveu em Portugal entre 1960 e 1974 onde concluiu o curso de Pintura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Regressou a Cabo Verde em 1975 para colaborar com a revitalização da cultura popular do arquipélago. Funda em 1976 a Cooperativa Resistência com o objetivo de manter viva a tecelagem tradicional cabo-verdiana. Entre 1978 e 1989 foi Diretor do Centro Nacional de Artesanato.
Desde 1963 que o artista tem exposto em mostras coletivas e individuais. Destacam-se exposições na Áustria, Bélgica, Brasil, Espanha, França, Estados Unidos da América, Portugal e, naturalmente, Cabo Verde. Em 2005, a Galeria Perve apresentou a primeira retrospetiva de Manuel Figueira realizada em Portugal. Nesta exposição, “Visões do Infinito”, foram apresentadas 126 obras do período compreendido entre 1963 (anterior à sua viagem para Portugal) e obras datadas de 2004. Pelo seu riquíssimo percurso, o artista foi agraciado com importantes distinções. Em 1988 recebeu o Prémio Jaime Figueiredo (do Ministério da Cultura e Desportos de Cabo Verde) e em 2000 recebeu a Medalha do Vulcão, condecoração atribuída, por ocasião dos 25 Anos da Independência, pela sua importância nas Artes Plásticas e na cultura de Cabo Verde.
A sua obra está representada em inúmeras coleções públicas e privadas de diversos países, com destaque para as peças incluídas nas coleções do Museu de Ovar, Banco Fomento, Banco Totta & Açores, A.N.P. (Cidade da Praia, Cabo Verde), Embaixada de Cabo Verde para a ONU (Nova Iorque), Fundação Pró-Justitae e palácio da Cultura (Cabo Verde).
Inforpress