“Ganhar o título de campeão de Cabo Verde é indescritível” – Toca Leite treinador da Palmeira

18/07/2023 18:09 - Modificado em 18/07/2023 20:57

Foi na ilha do Maio, no Estadio Dau D´Segunda, que Antonio Leite, ou Toca Leite, como é conhecido, entrou para história do Futebol de Cabo Verde, ao se transformar no segundo treinador a “oferecer” um campeonato nacional de futebol à ilha do Sal.

O treinador que vive na ilha do Sal desde de 2007, em entrevista exclusiva ao Notícias do Norte, esmiuçou todo o seu percurso futebolístico. O seu início nas camadas de base em São Vicente, a passagem por Portugal e o regresso à pátria, e o início da aventura como treinador e a festa de campeão nacional em 2023.

A conquista

Toca Leite, não gosta quando se diz que deu o primeiro campeonato Cabo Verde em futebol ao Palmeira, frente a equipa da Académica do Mindelo. Indo contra tudo e contra todos, o estreante como treinador principal, levantou no dia 08 de julho o troféu da prova máxima de futebol das ilhas.

Afirma que se hoje é campeão de Cabo Verde é por causa do grupo que dirige. “Esta conquista é de todos”.

Humilde, simples e educado, é assim que os familiares e amigos o caracterizam. Os adversários pensam nele como um dos treinadores mais ofensivos desta edição do nacional de futebol, a par do treinador da Académica do Mindelo.

Quem o diga é o Mindelense e também a Miká, que estando a vencer, o primeiro acabou por ser eliminado nas meias finais, já no último minuto e o outro, deixou-se empatar na final e nas grandes penalidades, a sorte sorriu ao treinador, que agora veste as cores da ilha mais turística do país.

Natural de São Vicente, adjunto de Dixinha na equipa do Palmeira na época passada, 2021/2022 tinha chegado à final do Campeonato Nacional, tendo perdido, curiosamente, contra a Académica do Mindelo, na altura comandada pelo Português, Carlos Machado.

Com 40 anos de idade, teve na sua estreia, após a saída de Dixinha do comando técnico do Palmeira, 2022/2023, uma época de sonho. Conquistou todas as provas regionais. O Torneio pré-época, a Supertaça, o Campeonato regional, a Taça Djadsal e o sagrou-se campeão dos campeões.

Antes de se tornar no campeão da ilha do Sal, teve um início e isto foi exatamente 10 a convite do Mister Gigi para ajudá-lo na Escola de Futebol Menifute em Santa Maria, onde foi levar os  filhos para treinar. “Nunca parei de treinar nessa escola e não tenho intenções de parar. Treinar crianças é a parte mais bonita do futebol porque tudo é puro e genuino”.

Um treinador que gosta de apostar na base, já que é ali que se encontra o desenvolvimento da modalidade no país. Trabalha neste momento, com sub-9, sub-11 e sub-15.

A nível dos seniores começou em 2018, no Santa Maria após a saída do treinador Pú. E após o término da época 2018/2019 integrou a equipa técnica do Palmeira, liderado pelo treinador e amigo Dixinha.

Para chegar neste patamar, Toca Leite também calçou as chuteiras, como jogador, aliás como quase todos os treinadores de futebol em Cabo Verde. A paixão pelo futebol é antiga. Esteve no Corinthians e no Batuque em São Vicente nos escalões de formação.

Depois, cedo teve que deixar o país, não para perseguir o sonho de ser jogador profissional, mas sim ingressar na Universidade. Em Portugal representou o Sporting da Covilhã em juniores e Alcains, Caria, Carvalhense em seniores.

Passou ainda pelo Sporting da Praia, Juventude, Santa Maria e Académico do Sal, Juventude e Santa Maria.

Engenheiro civil de profissão, chegou na ilha do Sal a trabalho em 2007, após terminar a Universidade no mesmo ano. E graças as entidades patronais sempre conseguiu conciliar as duas paixões.

Tipo/estilo de jogo que busca em suas equipas

Considera-se um treinador bastante prático e tende a aprender diariamente com a sua equipa. Contudo revela que o tipo/estilo de jogo o busca em suas equipas depende muito do adversário e dos jogadores da sua equipa que estejam em campo. “Gosto de fazer pressão alta, recuperar a bola o mais rápido possível e fazer transições. Gosto de ter extremos rápidos e fazer ataques ou transições rápidas. Também gosto que os meus jogadores joguem a 1 ou 2 toques para circular a bola com rapidez e tentar criar espaços”, refere o técnico.

Em relação a jogadores essenciais e importantes, é taxativo em afirmar a importância de todos. 

“Trabalho todos, organização ofensiva, defensiva, transições e bola parada. Conforme o adversário damos maior ênfase durante a semana a alguns desses momentos”, justifica o timoneiro da equipa da localidade de Palmeira, que destaca a qualidade individual de cada um que integra o plantel. “São todos indispensáveis”.

Para conseguir isso em campo diz que tenta, ao longo de cada treino, passar a motivação certa. E ao mesmo tempo, “tentar beber de tudo o que seja proveitoso para o nosso estilo de jogo e que se adapte aos meus jogadores”.

Referências futebolísticas

Tem como referências, o outro treinador além de si, que já tinha conquistado o nacional de futebol com uma equipa da ilha do Sal.  Djoy Rocha, que esteve nas duas anteriores conquistas, primeiro ao serviço da Académica, em 1992/93 e, em 2002/03, com o Académico do Aeroporto.

A lista é extensa e aponta outros nomes como Dixinha, Pu, Rui Leite e Piky.

“Tive muita sorte de trabalhar com excelentes treinadores, desde a formação até o fim da carreira. Todos eles me influenciam. Como sénior trabalhei com Dixinha, Pú, Pinha, Gigi, Lúcio Antunes, Djoy Rocha, Pedro Neves, Emanuel, Benur Évora, Kiki, Djô Balda, Carlos Santos, Nélito, etc… na formação trabalhei com o Piky, Semana, Rui, Tubu, Ti Polas, Iaiada, Careca etc… Além disso, o meu pai foi treinador e também é uma referência para mim porque falamos muito sobre futebol”.

Futebol do Sal – Cabo Verde

Considera que o futebol no país tem crescido ao longo dos anos, mantendo uma consistência de talentos e de competições. Realça o facto da ilha do Sal, que tem investido muito no futebol. Desde da formação.

“Hoje em dia temos boas infraestruturas, temos muitas formações para treinadores, dirigentes, etc… As competições estão cada vez mais bem organizadas e divulgadas. A nível de jogadores temos muita potencialidade, mas a meu ver, no geral, falta um pouco de “cabeça” ao jogador Cabo-verdiano. Podemos ser amadores, mas podemos ter mentalidade de profissional. Maiores dificuldades do palmeira

Acho que para a realidade do futebol Cabo-verdiano, falando da parte desportiva, não temos grandes dificuldades, temos um campo de treino só para nós, temos uma direção presente e que apoia.

O apoio da direção e o apoio/cobrança dos adeptos

Ser treinador de futebol é um dos cargos mais ingratos no futebol. “Não sabes o dia de manhã. Quando os resultados não são bons, não se pode mudar um plantel de mais de 20 jogadores, portanto, para tentar alterar o rumo das coisas, quem tem de sair é o treinador. Com esta ou com outra direção, o que mantém o treinador são os resultados”. 

Um clube de “beira mar”, como os chamam no Sal, e que duas décadas depois levou o troféu de campeão de Cabo Verde para a ilha. Para todos verem e apreciarem. Algo, que segundo Toca Leite tem sido indescritível.

Um clube de uma vila piscatória, que fez história e que ao longo de toda esta caminhada contou com o apoio dos seus adeptos. “São próximos a equipa. Apoiam muito quando as coisas correm bem, mas que cobram muito também, quando correm mal”, sustentou.

Por isso diz que ser treinador de futebol é um dos cargos mais ingratos no futebol.  “Quando os resultados não são bons, não se pode mudar um plantel de mais de 20 jogadores, portanto, para tentar alterar o rumo das coisas, quem tem de sair é o treinador”.

Próximo Nacional de Futebol 

Este não é o pensamento do clube, neste momento, que nos últimos dias tem feito um grande alvoroço pela ilha do Sal. A Taça de campeão tem feito um tour por todos os lados. Uma forma inovadora de fazer a população salense sentir que o troféu, também lhes pertence.

Toca Leite, diz que o momento tem sido de celebração, mas garante que ambiciona ganhar todos os jogos que vai disputar, por isso, a  ambição é alta a nível de títulos. “Foi difícil ganhar todos os títulos que conseguimos. Foi preciso trabalhar muito, respeitar todos os adversários e encarar os jogos com seriedade máxima. Tivemos jogos muito difíceis e claro tivemos a sorte que acompanha quem trabalha e também os “Deuses do futebol” do nosso lado”.

A Final do campeonato nacional época 2022/2023

Na final da prova encontrou uma das melhores equipas do país, neste momento, com um futebol organizado e que apenas perdeu um único jogo na fase de grupos. Liderou a lista de golos e detinha o título de campeão nacional e detentor da Taça de Cabo Verde, troféu, aliás, que conquistou após derrotar o Palmeira na meia-final.

Portanto um jogo que se avizinhava difícil e que Toca Leite reconhecia a árdua tarefa. No entanto, sabia que no futebol, só é vencedor após o apito final e apesar da pressão de vencer, já que a equipa tinha saído derrotada da última prova, garante que na sua mente só tinha um pensamento. “Dar o 1º título Nacional ao Palmeira”.

“Era um sonho da equipa. Falamos nisso na primeira reunião da época, eramos vice-campeões de Cabo Verde, tínhamos estado na final e o objetivo passava por regressar lá e porque não ganhar”, explicou.

No ano passado perderam a final e o gosto amargo, de chegar tão longe e ao mesmo tempo não ter conseguido, tornou a equipa mais forte, mais ambiciosa.

“A Académica dominou o jogo até marcar, depois acho que fomos superiores após alterar a equipa de um 4x3x3 para um 3x3x4 com a saída de um central e inclusão de um avançado e ficando a linha de 3 atrás composta por apenas 1 central e 2 laterais.

No entanto reconhece que a Académica poderia ter matado” o jogo com 2 ou 3 boas transições que fizeram porque a sua equipa estava mais exposta.

O empate e a conquista nas grande penalidades

“Empatamos o jogo no fim, 89 minutos. No prolongamento a minha equipa estava mais fresca e podíamos ter marcado para evitar as grandes penalidades. Relativamente ao desfecho, sempre estivemos confiantes para as grandes penalidades e a sorte caiu para o nosso lado”, comemora.

Além do título nacional, Toca Leite levou ainda o troféu individual de melhor treinador do Campeonato Nacional.

Elvis Carvalho

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