A organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) informou hoje que cada cabo-verdiano consome 11,2 quilos de cavala por ano e o País pode capturar dois a três mil toneladas dessa espécie, anualmente.
Estas informações foram divulgadas numa roda de conversa do Kavala Fresk Feastival, promovida pela FAO durante a roda de conversa intitulada “Acrescentando Valor: Cavala Preta, Estratégias e Ambiente de Negócios”.
De acordo com José Veiga, da FAO, as pescas têm assumido um papel muito importante na economia de Cabo Verde, nas últimas décadas, mas a cavala tem sido, ao longo da história de Cabo Verde muito pouco valorizada, porque até ao ano de 2000 ela assumia um papel secundário, particularmente como isco na pesca do Atum.
Apesar disso, afirmou que nas duas últimas décadas a cavala tem merecido atenção.
“Em termos de captura temos a capacidade de duas a três mil toneladas por ano e, pelos dados estatísticos de 2013 a 2017, a captura da cavala preta tem variado entre mil a três mil toneladas. O consumo ‘per capita’ da cavala em Cabo Verde é de 11,2 quilos, dos 23,5 quilos a nível do consumo ‘per capita’ total”, avançou José Veiga.
De acordo com a mesma fonte, a importância da cavala preta em Cabo Verde está traduzida em muitos documentos que informam que 38 por cento (%) das exportações de peixes em Cabo Verde é constituída pela cavala preta.
“Quando falo das exportações, estou a falar da cavala fresca, mas também da cavala transformada em conserva. Nós temos duas espécies de cavala em Cabo Verde, a preta que é mais importante é a mais abundante, e temos a cavala branca que não tem grande expressão no País. Todavia, tem aparecido na composição das capturas em Cabo Verde uma nova espécie de cavala, que tem rabo vermelho, que é uma cavala da ilha de Santa Helena”, explicou.
Segundo a mesma fonte, apesar da “quebra brutal” na captura da cavala em Cabo Verde, conforme os dados de 2017, a FAO acredita que tem estado a ver uma revitalização do stock da cavala preta porque, depois da instalação do período de defeso, verificou-se que o tamanho da cavala preta tem aumentado.
“Isso é bom sinal também, embora saibamos que, nos últimos dois anos, levantaram o período de defeso por razões mais políticas do que outra coisa”, analisou.
Por sua vez, a pesquisadora Katelene Delgado, que também participou na roda de conversa, disse que o estudo denominado “Avaliação ‘exposed’ das políticas de gestão da cavala preta”, que realizou em 2021, indicou que Cabo Verde tem implementado boas políticas de apoio à pesca sustentável baseado nas convenções internacionais e que a cavala está a aumentar de tamanho, porque estão a ser capturadas cavalas pretas maiores do que anteriormente.
Por outro lado, acrescentou, esse estudo indicou que o desembarque da cavala preta continua a diminuir e a mesma disse acreditar que isso tem a ver com questões climáticas.
“Pode estar relacionado com as mudanças climáticas. Sabemos que, ultimamente, as mudanças vêm afectando os ambientes naturais e não sabemos ao certo como isso tem afectado a cavala e os armadores disseram que, no período em que não estavam a conseguir pescar a cavala, testaram pescá-las com redes maiores e conseguiram captá-las num limite mais profundo”, informou.
Conforme Katelene Delgado, isso quer dizer que a água na superfície pode estar a ficar mais quente e as espécies deslocam-se mais a fundo. “Também a cavala preta foi encontrada no desembarque nas ilhas Canárias e sabemos que mais a norte é um pouco mais fria. Isso pode estar a motivar a cavala a deslocar-se um pouco mais a norte onde podem ficar mais aclimatadas”, analisou.
Conforme foi avançado ainda, um estudo realizado pela FAO, recentemente a nível mundial, sobre os impactos dos sectores da economia azul, pesca, aquacultura, turismo e energia, há um potencial de redução de biomassa pelo que as populações devem estar preparadas para se adaptarem aos impactos que estão por vir.
Conforme outro estudo da FAO, feito em 2022, o sector das pescas desempenha um papel cada vez mais importante em Cabo Verde representando mais de 80% das exportações.
O documento revelou ainda que a nível mundial a produção em 2011 foi de 214 milhões de toneladas, sendo que 178 milhões de toneladas foram de espécies animais aquáticas e 36 milhões em algas para alimentação.
A estimativa da FAO é que o consumo de peixes a nível mundial seja de 20 quilos por habitantes.
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