O cabo-verdiano é conhecido por ser um povo que gosta de emigrar. Muitos viajam em busca de segurança, melhores condições de vida e proteção social. Deixam o seu país com um objectivo em mente.
Estes saem da terra mãe, à procura de melhores condições de vida, saíram à procura de trabalho, o pão nosso de cada dia, a procura de uma vida mais digna, a procura de conseguir construir algo, fruto do trabalho realizado ali. Foram para outros países da Europa, neste caso Portugal, para ganhar a vida. Contudo a situação não é nada fácil, mas continua a ser, para eles, a melhor opção.
Michael Bento é um destes jovens Cabo-verdiano que vive em Portugal. Emigrou para o país à semelhança de outros pares, para estudar e como tal tem tido experiências e vivências complicadas. Mas, mesmo assim acredita que a emigração foi a sua melhor opção. “O foco é mostrar a nossa realidade, as dificuldades e também as oportunidades que temos aqui”.
Licenciado em Geografia e Ordenamento de Território, viajou para Portugal para fazer o seu mestrado em Beja. E foi assim que chegou, onde neste momento, é a sua casa.
Para dar a conhecer um pouco daquilo que são as vivências do seu povo em terras lusitanas, “Mike” como é conhecido, criou um canal na plataforma Youtube, onde mostra a vivência e experiência de vida no país. “O meu objetivo mesmo é levar mais conteúdos importantes para nós imigrantes cabo-verdianos em Portugal e não só”.
Em entrevista ao Notícias do Norte, Michael Bento, diz que o canal é um dos primeiros projectos que tem, para, assim, dar a conhecer a outros cabo verdianos a realidade da imigração. No canal ele mostra entrevistas aleatórias de como os imigrantes cabo-verdianos vivem em Portugal, por suas próprias palavras, ou seja, na primeira pessoa.
“O objetivo é mostrar às pessoas, principalmente, as que estão em Cabo Verde e que pretendem vir cá, como é que os imigrantes vivem em Portugal”, explicou “Mike” Bento, que alega que este é um conteúdo que considera ser importante, porque como diz, após algumas pesquisas, não encontrou muita informações de como os imigrantes cabo-verdianos vivem em Portugal. “Por isso, fiz este conteúdo que serve para levar mais informações sobre os cabo-verdianos em Portugal, que são as mesmas condições que os outros estrangeiros vivem também”.
Nos depoimentos disponíveis no canal deste jovem, podemos ouvir diretamente pela voz destes protagonistas, que todos passam, inicialmente, pelas mesmas dificuldades.
Uns saíram de Cabo Verde para estudar, mas infelizmente não conseguiram terminar os estudos e tiveram que mudar os planos. Ou viajaram de propósito à procura de melhores condições de vida.
Kevin, um jovem de Órgãos em Santiago, que está em Portugal há quatro anos, diz que foi para estudar, mas o objetivo maior foi conseguir uma vida melhor. “Tive um ano a estudar, consegui a residência e depois fiquei só a trabalhar”. Mas o salário serve só para pagar despesas. “Chega o fim mês e fico apertado. Não sobra muito depois de mandar algum para a família em Cabo Verde”, relata este jovem que diz ainda, que não se arrepende de ter viajado para o país.
“Em Cabo Verde era acordar, ir sentar numa esquina com os amigos, quase o dia inteiro. A noite, se conseguia algum dia para paródias e não tinha trabalho. Mas aqui, Portugal, tive que trabalhar e assim consigo, mesmo que pouco ajudar a minha familia”.
Angelina, que já está no país há oito anos, diz que em Portugal muitos cabo-verdianos vivem “injuriados”, para poderem sobreviver. “Se em Cabo Verde tinha mais condições ninguém saia dali, porque hora que chegarem ali, mesmo com estudo, poucos conseguem encontrar trabalho nas suas áreas.”, atira a imigrante que quer voltar a colocar os pés no país, não só de ferias, mas para viver.
Já Ângelo, que também já está há oito anos em Portugal, tem um discurso diferente. “Não encontrei muitas dificuldades em integrar. Estou aqui no dia a dia a batalhar pela minha vida, nunca tive muitos problemas. Com o que ganho sustento a minha família e ainda consigo mandar alguma remessa para Cabo Verde”.
Eliane que chegou recentemente no país, diz que foi para o país para ficar com a família. “O salário em Portugal é por conta de despesas, e tem vezes que temos que fazer alguma gincana. Queremos ajudar os familiares que estão ali, mas é quase impossível, porque não sobra quase nada”, conta a jovem que quer dar uma vida melhor aos pais.
Contudo, apesar das dificuldades, a posição é quase unânime. Dizem que estar ali em Portugal é melhor que estar em Cabo Verde, por causa do desemprego,falta de segurança e outros problemas, que se vive nas ilhas.
O trabalho de Michael Bento, serve, conforme o nosso entrevistado, para dar uma ideia geral, mas realista de quem está no país, sobre a vida na Europa, isso porque existe um défice de informação sobre os imigrantes e com este projecto, quer desconstruir uma narrativa.
“Se tivesse um bom trabalho em Cabo Verde, com um bom salário, que dava para sustentar todas as despesas, fazer uma poupança, uma casa própria, estar perto da família e amigos, pensava muitas vezes antes de arriscar em vir pra cá, sem nenhuma promessa de um bom trabalho”, apontou o nosso entrevistado, que diz ainda que estas declarações, apenas saem porque “já estou aqui e já conheço a vivência de cá, mas enquanto estivermos lá não teremos essa percepção”.
Portanto, sem querer ser pretensioso, diz que a ideia do canal é que o material colectado e divulgado possa ajudar pretende, um dia viajar para Portugal e saberem como é viver ali antes de chegarem.
Além deste projecto social de informação, Michael Bento, tem ainda, um programa de nome “AboKuale_Cast”,onde convida cabo-verdianos que têm algum tipo de talento, que fazem trabalho sociais, entre como forma de divulgar os seus trabalhos através do YouTube.
Elvis Carvalho