São Vicente: Comparticipação pedida pela Escola Salesiana do Mindelo para ajudar nas despesas divide opiniões de pais

3/07/2023 17:28 - Modificado em 3/07/2023 17:28

A Escola Salesiana do Mindelo deverá introduzir a partir do próximo ano lectivo uma comparticipação mensal de pais para ajudar nas despesas de funcionamento da escola, uma decisão que divide as opiniões dos encarregados de educação.

A proposta da direcção da escola foi feita em reuniões realizadas nos dois últimos, nas quais foi socializada uma tabela de comparticipação, que deveria ir de 190 escudos a 3.000 escudos, como valor tecto do quadro, com percentagens com base no escalonamento salarial.

As razões apresentadas pelo director, padre Luís Peralta, foram que a escola não está a conseguir suportar as despesas de funcionamento, despesas correntes e salários dos funcionários não professores – os docentes são pagos pelo Ministério de Educação que comparticipa ainda com um subsídio – neste estabelecimento de ensino, considerada como semi-pública ou semi-privada.

Argumento que Zenaida Alfama, um dos encarregados de educação ouvidos pela Inforpress, disse não entender, quando o Estado de Cabo Verde decretou a gratuitidade do ensino até ao 12º ano.

“Acredito que os pais devem comparticipar para melhor funcionamento da escola, mas, não acho que isto deve ser feito porque o Estado não está a fazer”, considerou esta mãe, que tem uma filha no 5º ano na escola, mas, tem outras despesas com uma filha a frequentar Medicina na universidade e sem bolsa.

Mais ainda, assegurou, colocou a sua filha na Escola Salesiana porque mesmo tendo administração privada, sempre foi considerada uma escola pública.

Anselmo Fonseca, pai de dois alunos dos Salesianos, também questiona a anunciada gratuitidade quando os encarregados deverão pagar uma quantia mensal que poderá configurar como uma “propina ou um imposto”.

“Uma vez que há toda uma contribuição para o Orçamento do Estado, cabe ao Governo fazer uma redistribuição das receitas e, por exemplo, garantir igualdade de oportunidade de ensino para todos”, lançou Anselmo Fonseca, para quem o executivo precisa aumentar o financiamento atribuído à Escola Salesiana.

Isto porque, segundo a mesma fonte, a Escola Salesiana libertou o Governo de uma “grande pressão orçamental” de construção de salas de aula, parque desportivo, espaço cultural e outros equipamentos escolares.

Por outro lado, defendeu, há a necessidade da “Salesiana” ser vista com “outros olhos”, uma vez que os jovens formados ali têm um “comportamento diferente daquele que é o padrão de outros jovens saídos do ensino público” e daí, sustentou, “não é aceitável que esta tenha um tratamento iníquo em relação a outras escolas públicas”.

Entretanto, totalmente discordante dos seus pares, a mãe Kátia Araújo considerou ser “justa” a comparticipação dos pais numa escola semi-privada.

“O Estado não pode subsidiar a cem por cento uma escola semi-privada, em nenhuma parte do mundo se encontra isso”, afiançou, lembrando que o Estado cabo-verdiano é “pobre e dependente de ajudas”.

Kátia Araújo disse estar consciente de que o montante a ser pago pode até pesar no orçamento familiar, mas, pede aos pais que coloquem a educação dos filhos como uma “prioridade” e ajudem a escola que tem várias despesas para manter o seu padrão de qualidade.

A mesma qualidade também defendida pelo presidente da Associação de Pais da Escola Salesiana, Carlos Soulé, que assumiu o cargo no último mês de Maio e para quem houve um “equívoco” dos encarregados de educação, porque, lembrou, o ensino é gratuito somente nas escolas públicas e não nas semi-públicas ou semi-privadas nas quais o Estado pode comparticipar uma parte das despesas.

Segundo a mesma fonte, esse é o caso da Escola Salesiana que já tem alguns anos a passar por algumas dificuldades, quando a procura dos alunos só tem aumentado.

“Das duas uma nessas situações: ou a gestão da escola é inconsciente e deixa a escola partir e acumular dívidas, ou então, a montante, toma medidas para prevenir a degradação da escola e é isso que estão a fazer”, explicou.

Carlos Soulé disse que depois de reuniões com os pais, fizeram uma contraproposta à direcção “mais atenuante” para as famílias, com uma comparticipação básica de cerca de 1.500 escudos na qual as pessoas que não têm condições de pagar, podem dar menos ou pedir isenção, mediante a apresentação de comprovativos.

Os detalhes dos montantes, descontos e isenções deverão ficar totalmente definidos no início do próximo ano lectivo, com o engajamento da associação de pais e a “boa receptividade” da direcção da Escola Salesiana do Mindelo, considerou o responsável.

Por seu lado, o director, padre Luís Peralta, assegurou que o pedido aos pais foi o último recurso depois de um processo no qual pediram ao Governo para aumentar o montante e receberam a resposta de ser “impossível” esse aumento.

O subsídio do Estado, cujo valor o padre não quis avançar, não tem chegado para garantir a sustentabilidade da escola, que tem um nível de qualidade que quer manter.

Entretanto, Luís Peralta admitiu ser “muito interessante” a contraproposta da Associação de Pais e congratulou-se com a “boa vontade” dos encarregados de educação.

“O que está por detrás é a formação do futuro, nossas crianças, jovens e adolescentes e aqui se procura o que é melhor para eles e irem melhor preparados para esse futuro. Porque também ainda vamos precisar muito deles”, advogou o director, guardando “boas expectativas” da tabela de comparticipação ser aplicada no ano lectivo para ajudar a escola com cerca de 1.400 alunos neste momento.

A Inforpress tentou também uma reacção do ministro da Educação, através da assessoria de comunicação, que prometeu dar alguma justificativa, mas, até ao fim da reportagem não houve resposta.

Inforpress

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