A criação de um espaço próprio para a realização de reuniões, encontros, exposições e dificuldades em obter matéria prima, são os principais desafios da classe, de acordo com o presidente da Associação de Produtores de Artesanato da ilha de São Vicente.
Numa entrevista, hoje, ao Notícias do Norte, Davitson Almeida, explicou que nos últimos tempos os artesãos, não obstante alguns ganhos, ainda sentem-se “de certa forma excluídos”, embora a sua arte, como bordados coloridos, cerâmicas intrincadas, peças únicas de cestaria, peças de barro estão entre os tesouros artesanais da ilha de São Vicente.
Para este responsável associativo os obstáculos enfrentados pelos artesãos locais e os esforços da associação para promover, fortalecer e preservar a riqueza cultural e econômica dessas habilidades tradicionais, ainda são muitos.
Fundada em novembro do ano de 2022, a associação tem enfrentado diversos obstáculos para impulsionar o setor artesanal na ilha. E uma das dificuldades enfrentadas pela associação, deve-se à falta de um espaço próprio para a realização de reuniões e encontros. “Já tentamos obter um espaço multiuso junto de entidades como a Câmara Municipal e a CNAD, porém, ainda não conseguimos”.
A aquisição de matéria-prima é uma das principais preocupações dos artesãos, uma vez que muitos dependem de matérias-primas provenientes de outras ilhas, ou mesmo países e isso dificulta a produção artesanal.
E para agravar ainda mais a situação, diz que não existem políticas concretas e eficazes que permitam promover os trabalhos e criar um maior intercâmbio entre todos os fabricantes de artesanato. Entre os quais destaca o acesso ao financiamento, o que constitui um problema ao desenvolvimento e à expansão dos negócios.
Diz que a administração local deve estar envolvida na criação, desenvolvimento de programas que promovam os artesãos. É que segundo Davitson Almeida a promoção dos artesãos, não vem sendo feita da melhor forma. Além disso existem o problema de ligação inter-ilhas, que torna quase impossível o intercâmbio no sector.
Embora seja possível escoar os produtos para outras ilhas, salientou que a logística, ainda é um desafio a ser superado Neste sentido, diante das dificuldades, a APAR iniciou um levantamento das fragilidades existentes nos ateliês dos associados, visando encontrar soluções em conjunto.
A maioria dos associados, referiu, recebem turistas e nacionais e, é nesse sentido que a associação, sublinhou, busca melhorar as condições para os artesãos, através do diálogo com outras entidades e da criação de melhores condições de trabalho e apresentação dos produtos.
A Associação de Produtores de Artesanato da ilha de São Vicente, garantiu o seu presidente, também tem-se empenhado em acompanhar e orientar os artesãos quanto à sua imagem e apresentação dos produtos. Com isso diz-se estar em constante diálogo com operadores turísticos de outras ilhas, como Sal e Santo Antão, visando ampliar o mercado de escoamento dos produtos artesanais.
Para impulsionar ainda mais o setor, a APAR planeja iniciar uma campanha de angariação de fundos nos próximos dias, com vista à obtenção de equipamentos para feiras, não só em São Vicente, mas também nas outras ilhas.
Além disso, a associação busca promover intercâmbios com associações de outras ilhas, a fim de fortalecer a rede de produtores de artesanato em Cabo Verde.
Para a APAR, o compromisso com a sustentabilidade ecoa como um fio condutor em cada criação artesanal. Os artesãos associados, diz, compreendem a importância de adotar práticas sustentáveis na produção, evitando desperdícios e promovendo o reaproveitamento de materiais.
Além disso, a associação almeja resgatar técnicas que correm o risco de serem esquecidas, como a cerâmica e a cestaria, documentando esses conhecimentos para “reviver a essência cultural de São Vicente”. Nesta atividade, a APAR quer compartilhar seu legado e inspirar as gerações futuras a abraçar a riqueza do artesanato local.
Embora os associados da APAR consigam enviar peças para todas as ilhas de Cabo Verde, ainda não existe um mercado consolidado fora do país. No entanto, alguns artesãos têm enviado produtos por correio, buscando expandir suas vendas.
Davitson Almeida destacou algumas medidas que a associação gostaria de ver implementadas para fortalecer o setor artesanal. Entre elas, estão a promoção contínua do artesão e do artesanato ao longo do ano, por meio da criação de atividades e eventos, além de facilitar o acesso ao crédito, reduzindo a burocracia que muitas vezes desencoraja os artesãos.
“Seria importante também um novo modelo de acesso à previdência social e isenção alfandegária para aquisição de matéria-prima. Para termos um bom artesanato, muitas coisas precisam ser mudadas”, comentou Almeida.
Com esforços contínuos para superar as dificuldades e valorizar o artesanato local, a Associação de Produtores de Artesanato da ilha de São Vicente busca aumentar o reconhecimento da importância cultural e econômica do setor.
Através do engajamento dos artesãos, parcerias estratégicas e ações concretas, a APAR almeja fortalecer a atividade artesanal e contribuir para o desenvolvimento sustentável da ilha de São Vicente e de Cabo Verde como um todo.
AC – Estagiária