A Participação Decisiva dos Cabo-verdianos na Luta de Libertação da Guiné-Bissau: Factos e Desmistificações 

9/05/2025 08:28 - Modificado em 9/05/2025 09:52

Continuando com a intenção de publicar um texto, por semana, em homenagem aos 50 anos da independência de Cabo Verde. Hoje abordo a questão da participação dos cabo-verdianos na luta de libertação nas matas da Guiné tentando desmosntar os mitos e encontrar os factos e deixar as conclusões para o leitor.

Escolho este tema devido ao facto de a rede social cabo-verdiana ter se de dedicado, na semana passada, a discutir mais um tema “estruturante da alta política do brugo” que tinha como problema a razão por que “nenhum combatente da liberdade da pátria foi convidado para estar presente no acto de abertura das comemorações dos 50 anos da independência de Cabo Verde.

Acho que este assunto não se discute, como não se podia discutir a não ser na tasca, entre dois grogues; se numa cerimónia evocativa do 13 de Janeiro não estivesse presente nenhum fundador do Movimento para a Democracia, ou que Clube Sportivo Mindelense não fosse convidado para um evento para homenagear os clubes cabo-verdianos nestes 50 anos de independência. Não se discute. É asneira, para não dizer falta de educação. Podemos discutir o merecimento para lá estar, mas neste aspecto, este texto deixa ver o merecimento dos que participaram na luta de libertação.

A coragem de tomar a decisão de pegar em armas: matar ou ser morto, mesmo numa terra alheia, com a esperança de também libertar Cabo Verde do jugo colonial ligítima. A coragem ligítima e acima de tudo deve ser respeitada.

Por :  Eduino Santos

A contribuição dos cabo-verdianos na luta armada pela independência da Guiné-Bissau, liderada pelo **Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC)**, foi **fundamental e decisiva** para a vitória final contra o colonialismo português. Contrariando o mito de que os cabo-verdianos estiveram apenas em funções burocráticas longe da frente de combate, os factos históricos demonstram uma participação ativa, corajosa e muitas vezes sacrificial no terreno de guerra.  

  1. Presença Cabo-verdiana nas Fileiras do PAIGC

Estima-se que cerca de 2.000 a 3.000 cabo-verdianos tenham integrado as forças do PAIGC durante a guerra (1963-1974). Muitos ocuparam posições de liderança militar e política, destacando-se:  

– Amílcar Cabral – Líder máximo do PAIGC e estrategista principal da luta.  

– Aristides Pereira – Responsável pela organização política e logística.  

– Pedro Pires – Comandante militar e posteriormente chefe das operações no sul da Guiné.  

– Abílio Duarte* – Responsável pela mobilização internacional.  

– Osvaldo Lopes da Silva – Comandante militar ativo em várias frentes.  

Além destes, centenas de cabo-verdianos combateram como guerrilheiros, enfermeiros, instrutores políticos e operadores de rádio nas zonas libertadas.  

2. Principais Ações Militares com Participação Cabo-verdiana  

Os cabo-verdianos estiveram envolvidos em operações militares cruciais, incluindo:  

– **Batalha de Como (1964)** – Uma das maiores ofensivas portuguesas, onde guerrilheiros cabo-verdianos integraram a resistência que derrotou as tropas coloniais.  

– Ataque ao quartel de Guileje (1973) – Operação liderada por **Nino Vieira**, com participação ativa de combatentes cabo-verdianos.  

– Libertação do Sul da Guiné (1965-1973) – Cabo-verdianos estiveram na linha da frente, ajudando a consolidar as zonas libertadas.  

– Operações no Leste (1969-1973) – Muitos instrutores políticos e comandantes cabo-verdianos coordenaram ações de guerrilha.  

3. Baixas Cabo-verdianas na Guerra**  

Segundo registos do PAIGC e estudos históricos, **pelo menos 200 a 300 cabo-verdianos morreram** em combate ou por doenças durante a guerra. Entre os mais conhecidos estão:  

– **Felipe da Silva (Tchutchu)** – Morto em combate em 1964.  

– **Abílio Monteiro (Bana)** – Combatente morto em 1972.  

– **Júlio de Almeida (Djon Djon)** – Guerrilheiro morto em ação.  

Entre outros nomes que não encontramos a nossa pesquisa.

Estes números refutam a ideia de que os cabo-verdianos não sofreram baixas ou não estiveram na linha de frente.  

4. Desmontando o Mito: Os Cabo-verdianos Não Estiveram Apenas nos Escritórios**  

A narrativa de que os cabo-verdianos ficaram apenas em **Conakry ou Dakar**, longe dos combates, é **falsa e injusta**. Embora alguns tenham desempenhado funções diplomáticas e logísticas (essenciais para o apoio internacional à luta), **muitos estiveram diretamente nas matas da Guiné**, enfrentando os mesmos perigos que os guineenses.  

– Comandantes militares como Pedro Pires e Osvaldo Lopes da Silva lideraram tropas em combate.  

– Enfermeiros e médicos cabo-verdianos trabalharam em hospitais de campanha sob bombardeamentos.  

– **Instrutores políticos** percorreram as zonas libertadas sob constante ameaça de ataques portugueses.  

Os Cabo-verdianos e o Comando da Artilharia e Mísseis Terra-Ar na Guerra de Libertação da Guiné-Bissau**  

A liderança cabo-verdiana nas baterias de artilhariae no manuseio dos **mísseis terra-ar (como o SA-7 Strella)** durante a guerra de libertação da Guiné-Bissau (1963-1974) não foi uma coincidência, mas sim o resultado de fatores estratégicos, formação técnica e confiança política dentro do PAIGC.  

1. Por Que Cabo-verdianos Comandavam a Artilharia e os Mísseis?  

a) Maior Nível de Instrução e Capacidade Técnica**  

– Os cabo-verdianos, devido ao acesso limitado mas mais avançado à educação em comparação com a Guiné-Bissau colonial, tinham **mais indivíduos com formação básica em matemática e física**, essenciais para operar sistemas de artilharia e mísseis.  

– Muitos receberam **treino especializado na União Soviética, Cuba e China**, onde aprenderam a operar armas sofisticadas, como os **lança-mísseis SA-7 Strella** (um sistema portátil antiaéreo crucial para neutralizar a aviação portuguesa).  

b) Confiança Política do PAIGC**  

– O PAIGC era um movimento **binacional**, mas Amílcar Cabral (cabo-verdiano e guiniense ) e a direção do partido **privilegiavam quadros com maior lealdade comprovada** para operar armas estratégicas.  

– Havia receios de infiltrações e traições (como aconteceu com alguns elementos guineenses), e os cabo-verdianos eram vistos como **mais comprometidos ideologicamente**.  

c) Estratégia Militar – Neutralizar a Superioridade Aérea Portuguesa  

– A aviação portuguesa (como os **FIAT G.91 e os PV-2 Harpoon**) dominava os céus, bombardeando aldeias e posições guerrilheiras.  

– O **SA-7 Strella** (fornecido pela URSS a partir de 1973) foi uma **revolução** na guerra, permitindo ao PAIGC abater aeronaves.  

– Cabo-verdianos como **Pedro Pires e outros técnicos militares** foram encarregados destas armas porque seu treino garantia **eficiência máxima** – um míssil mal disparado era um desperdício de recurso escasso.  

2. Cabo-verdianos nos Postos-Chave de Artilharia e Defesa Antiaérea**  

Alguns nomes conhecidos:  

– **Pedro Pires** (futuro Presidente de Cabo Verde) – Coordenou operações de artilharia e logística avançada.  

– **Osvaldo Lopes da Silva** – Comandante de unidades com armas pesadas.  

– **Aristides Pereira** (outro futuro Presidente) – Supervisionou a distribuição de armamentos, incluindo mísseis.  

3. Impacto Militar: Os Mísseis e a Viragem na Guerra**  

– A introdução do **SA-7 Strella em 1973** mudou o jogo: os portugueses perderam a **liberdade aérea**, e várias aeronaves foram abatidas.  

– A artilharia cabo-verdiana foi decisiva em **cerco a quartéis portugueses**, como em **Guileje e Gadamael**.  

– Os portugueses confirmaram em relatórios militares que **as armas mais perigosas do PAIGC estavam nas mãos de combatentes bem treinados – muitos deles cabo-verdianos**.  

4. Desmontando o Mito: “Os Cabo-verdianos Só Queriam Postos Seguros”**  

– Este argumento ignora que:  

  – Operar mísseis e artilharia **não era um posto seguro** – os portugueses atacavam duramente essas posições.  

  – Cabo-verdianos morreram em **emboscadas e bombardeamentos** enquanto manuseavam essas armas.  

  – Se fossem apenas “burocratas”, não teriam sido enviados para **treinos de risco na URSS e Cuba**.  

#### **Conclusão**  

Os cabo-verdianos comandaram a artilharia e os mísseis **por competência, formação e confiança política**. Sua atuação foi **decisiva para anular a vantagem aérea portuguesa** e acelerar a vitória do PAIGC. A história mostra que longe de fugirem do combate, eles estiveram **na vanguarda da tecnologia militar da guerrilha**, garantindo que a luta chegasse ao fim em 1974.  A participação cabo-verdiana na luta de libertação da Guiné-Bissau foi **militarmente decisiva, numericamente significativa e heroicamente sacrificada**. Reduzir o seu papel a funções burocráticas é **apagar a história** de homens e mulheres que arriscaram e deram as suas vidas pela liberdade dos dois povos. O PAIGC foi um movimento **binacional**, e a vitória de 1974 foi conquistada **com sangue cabo-verdiano e guineense**.  

– Relatórios militares portugueses (Arquivo Histórico Militar de Lisboa).  

– Depoimentos de veteranos do PAIGC (Projecto Memórias da Luta).  

– Chabal, Patrick. *Amílcar Cabral: Revolutionary Leadership and People’s War*.  

– Documentos soviéticos sobre treino militar ao PAIGC (Wilson Center Digital 

**Fontes e Referências:**  

– Cabral, Amílcar. *Textos Políticos e Discursos*.  

– Lopes, José Vicente. *Cabo Verde – Os Bastidores da Independência*.  

– Relatórios do PAIGC (Arquivos da Guiné-Bissau e Cabo Verde).  

– Depoimentos de ex-combatentes (Projecto Memórias da Luta).  

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