Papa Francisco: Homem de Processos e a transformação contínua da Igreja

26/04/2025 12:36 - Modificado em 26/04/2025 12:36

A eleição do Papa Francisco, em 2013, marcou o início de uma era de renovação na Igreja Católica, caracterizada não por rupturas abruptas, mas por”processos graduais e profundos”. Sua visão de uma Igreja “em saída”, voltada para as periferias existenciais e aberta à escuta, insere-se em um movimento que transcende sua figura.

 As mudanças que promoveu não são eventos isolados, mas parte de um “processo em andamento”, que continuará a moldar a instituição mesmo após seu pontificado. Sua abordagem reflete uma compreensão de que a reforma da Igreja é uma jornada coletiva, não um destino fixo. Devo confessar  que este enquadramento é mais um  desejo de que uma certeza  que espero  que seja um desejo que se transforma em certeza.

Francisco era apenas um homem humilde, alegre e  caridoso com as vestes de um Papa, ele sabia que um só homem não conseguiria transformar a Igreja Católica que há muito tinha deixado de ser missionária e  se esqueceu dos ensinamentos de Jesus Cristo, e tinha pouco de uma igreja Cristã e com isso vinham perdendo fiéis e seguidores deixando as igrejas católicas vazias entregue aos seus dogmas e a elite que falava em nome de Cristo mas não colocava na prática o cristianismo. 

Os crentes deixam de crer e não sentiam que lá, na Igreja Catòlica, não podiam encontrar o que Jesus Cristo lhes ofereceu “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu darei descanso a vocês.Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas.Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.

Fora isto, que não é pouco,  havia os escândalos financeiros , corrupção , pedofilia e muitos crimes sem castigo. Eu,apesar de ter sido batizado, há muito tinha deixado de ser católico. E as últimas missas que  assisti, só fiz porque  no clube que jogava futebol o Desportivo Domingos Sávio, Campo de Ourique, Lisboa  só era convocado para os jogos quem  fosse à missa  e para treinar tinha que ir a catequese. Nos juvenis  deixei DDS, o futebol. Mas não aguentei: a missa e a catequese eram uma “seca”.

Como cidadão sempre enfrentei os dogmas da Igreja Católica. Como jornalista  enfrentei o Bispo de Cabo Verde, Dom Paulino Évora, quando no início dos anos 90 ele defendeu numa entrevista que “uma mulher mesmo sendo violada  devia ter o filho fruto dessa violação. “Escrevi na altura um artigo de opinião onde lhe disse que ele “era um candidato a santo, não tinha filhos”. Nunca se veria nesse dilema de aceitar um filho que não era dele, mas sim de bandido”. 

Mas nós os simples mortais achávamos que esse assunto “era particular e cabia à mulher a última palavra sobre o assunto”. “Que deveria  decidir com a sua consciência se queria ou  não ter um filho de estuprador, de um bandido que inflingiu tanta dor. 

“Cabia à família, se fosse uma menor tomar essa decisão em consciência. Pena que na altura ainda não tinha estudado a bíblia, sem a orientação dogmática  de um  catequista ou senão teria exigido que a Igreja Católica  de Cabo Verde em vez de impor uma moral caquética as mulheres, particularmente jovens, tivesse para com as mulheres grávidas devido a uma violação uma atitude cristã: Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu darei descanso a vocês”. Frase de Jesus que nos lembra de que sempre podemos buscar ajuda e conforto em Deus, especialmente quando estamos passando por momentos difíceis

E foi este processso de acolher os mais fracos , de ofercer conforto , de nao discriminar pela raça , sexo , origem   e colocar a familia no centro das nossas vidas  que Francisco trouxe a Igreja Catolica  cativando os crentes e nao crentes. Mas Francisco não foi um revolucionário. Este papel é de Jesus Cristo que há 2025 pedia.  

Amarás o teu próximo como a ti mesmo, onde  enfatizou a importância de amar não apenas amigos e familiares, mas também estranhos e inimigos. Ou “ Perdoai, e sereis perdoados.” – Jesus enfatizou a importância do perdão ao ensinar que, para recebermos perdão, devemos perdoar aos outros.

E podia seguir com frases de Jesus que  revolucionaram o mundo que Cristo viveu . Ao fim desta história sabemos que acabou com Cristo assassinado pendurado numa cruz  apenas  porque pensava diferente e defendia as suas convicções mesmo contra os poderosos . E com a maioria dos ditos cristaos a não ligarem aos ensinamentos de Cristo e muito menos colocá-los em prática.

Isto para mostrar que Francisco não entrou em rupturas abruptas, mas por”processos graduais e profundos”. Os seus processos  tem como base o colectivo, Jesus tinha como base a sua pessoa e não era para menos ,pois ele dizia ser o Filho de Deus. Por isso acredito , espero que os processos , por exemplo a questão das mulheres celebrarem a missa, tenha continuidade após a sua de Francisco. Isto por que  todos sabem, até os conservadores da Igreja Católica  sabem que não há caminho para recuar, voltar ao antes Francisco.

Isto porque uma característica de Francisco  que não está a ser mencionada junto de nós leigos, é que o Papa Francisco era um homem de processos .Não era um simples reformista . As mudanças que ele introduziu fazem parte de um processo que continua em desenvolvimento. E certamente iremos ver isso no Conclave , a forma de eleger o Papa  é um processo em que Francisco trabalhou muito para que  as coisas não voltassem a ser como eram. A Igreja não pode expulsar a comunidade homossexual, as mulheres, os pobres ,os desventurados ,os humildes que o processo iniciado por Francisco resgatou. 

A Igreja Católica seja qual for o Papa eleito não pode parar o processo que está a transformar a Igreja católica numa Igreja Cristã, missionária que trás para a realidade  a necessidade de ser como Jesus disse e Francisco fez”Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu darei descanso a vocês.

Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas.

Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.

Mas vejamos as principais mudanças de Francisco

1. **Pastoralidade e Misericórdia**:  

   – **Amoris Laetitia** (2016) redefiniu a abordagem pastoral para famílias e divorciados recasados, permitindo, em alguns casos, acesso à comunhão.  

   – Enfatizou a “cultura do encontro”, priorizando a compaixão sobre o dogmatismo.  

2. **Descentralização e Sinodalidade**:  

   – Promoveu a **sinodalidade**, transferindo decisões para conferências episcopais locais (como em *Episcopalis Communio*).  

   – O **Sínodo sobre a Sinodalidade** (2021-2024) busca institucionalizar a participação de leigos, incluindo mulheres e jovens, na governança.  

3. **Justiça Socio-ambiental**:  

   – **Laudato Si’** (2015) integrou ecologia integral ao magistério, pressionando por ações contra a crise climática.  

   – Criticou o neoliberalismo e defendeu migrantes, refugiados e pobres.  

4. **Inclusão de Marginalizados**:

   – Adoção de linguagem acolhedora para LGBTQ+ (“*Quem sou eu para julgar?*”), embora sem alterar a doutrina.  

   – Nomeação de mulheres para cargos estratégicos (ex.: 1ª secretária-geral do Sínodo dos Bispos).  

5. **Reforma Financeira e Governança**:  

   – Combate à corrupção no Vaticano, com leis de transparência e criação da Secretaria para a Economia.  

   – Limitação de mandatos para cargos curiais, reduzindo o poder de grupos históricos.  

6. **Diálogo Inter-Religioso e Ecumenismo**:  

   – Abraços simbólicos com líderes muçulmanos e ortodoxos, como o encontro histórico com o Grande Imame de Al-Azhar (2019).  

7. **Abuso Sexual: Responsabilização Limitada**:  

   – Estabeleceu protocolos para investigação de bispos (*Vos Estis Lux Mundi*), mas críticos apontam lentidão na aplicação.  

Cenários Pós-Francisco: Entre Continuidade e Conflito**  

A eleição do próximo papa será um termômetro do impacto duradouro de Francisco. Os cenários possíveis incluem:  

1. **Consolidação das Reformas**:  

   – Um sucessor alinhado à sua visão (talvez do Sul Global) pode aprofundar a sinodalidade, ampliar o papel das mulheres e reforçar o ambientalismo.  

   – A **geração de bispos nomeados por Francisco** (40% do Colégio Cardinalício em 2023) tenderá a sustentar suas políticas.  

2. **Reação Conservadora**:  

   – Um pontífice tradicionalista poderia revisar normas pastorais (Ex: comunhão a divorciados) e recentralizar o poder, mas enfrentaria a resistência de dioceses progressistas.  

   – Movimentos como os “católicos de identidade” que ganhariam força, polarizando a Igreja.  

3. **Caminho do Meio**:  

   – Um moderado buscaria equilíbrio, mantendo reformas sociais enquanto freia mudanças doutrinárias (ex.: celibato, gênero).  

   – A sinodalidade permaneceria, porém com menor participação leiga.  

4. **Fragmentação Regional**:  

   – Dioceses do Sul Global (África, Ásia) poderiam adotar práticas mais autônomas, como liturgias inculturadas, enquanto a Europa enfrenta secularização.  

   – Tensões entre uma Igreja “universal” e “local” se intensificariam.  

 O Processo Como Legado

Francisco não foi um revolucionário, mas um **catalisador de processos**. Suas reformas estão enraizadas em sínodos, documentos e estruturas que dificilmente serão revertidas integralmente. A Igreja do futuro será definida pela capacidade de equilibrar tradição e renovação, num mundo em rápida transformação. 

Seu maior legado talvez seja ter demonstrado que a fé não é estática — e que, mesmo após sua morte, o “cheiro das ovelhas” continuará a guiar os passos da comunidade católica.

Eduino Santos

Com pesquisa IA 

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