O presidente da Associação dos Médicos Cabo-verdianos nos EUA, Júlio Teixeira, defende que Cabo Verde deve investir na formação de especialistas no país, como única via para garantir sustentabilidade e reduzir a dependência externa em recursos humanos.
Júlio Teixeira falava aos jornalistas no final da tarde, à margem do pré-simpósio sobre a formação pós-graduada em especialidades clínicas, em que destacou que os recursos humanos continuam a ser um dos maiores défices do sistema de saúde em Cabo Verde.
Sublinhou a importância de investir na formação de especialistas no próprio país, como forma de reduzir a dependência de profissionais estrangeiros, nomeadamente de Cuba e de outros países.
Segundo Teixeira, essa é a única via para garantir a sustentabilidade do sector e assegurar a continuidade da produção de quadros nacionais, alertando que muitos desses profissionais vão entrar na fase de reforma nos próximos 10 a 15 anos, daí a necessidade de formar uma nova geração de especialistas.
Afirmou que actualmente a Medicina é uma área altamente complexa e que a ideia de que um clínico geral pode saber tudo está ultrapassada.
“Hoje, um médico precisa especializar-se, e muitas vezes até subespecializar-se e a exigência dos pacientes é cada vez maior, e Cabo Verde tem que acompanhar as necessidades da sua população”, defendeu.
O médico manifestou total disponibilidade para colaborar com Cabo Verde, destacando que há muitos quadros qualificados na diáspora, nomeadamente professores universitários que já participam na formação de especialistas nos Estados Unidos e que podem também contribuir para o processo formativo em Cabo Verde.
Considerou igualmente fundamental que o país crie um ambiente acolhedor para os profissionais cabo-verdianos no estrangeiro, reconhecendo o seu valor e integrando-os naturalmente no desenvolvimento nacional.
“Por exemplo, se uma pessoa é professor em Harvard University e temos cabo-verdianos que são professores lá na área da medicina não tem razão para não serem professores aqui na Universidade de Cabo Verde”, apontou.
Para este responsável, se uma pessoa tem licença para exercer medicina em Boston, é necessário encontrar formas de facilitar o reconhecimento dessa licença para a prática médica em Cabo Verde.
Esta medida, segundo disse, serviria de incentivo à participação activa de profissionais da diáspora no sistema de saúde nacional, promovendo o seu contributo para o desenvolvimento do sector.
Na mesma linha, defendeu que é necessário repensar o modelo socioeconómico que Cabo Verde pretende adoptar relativamente aos profissionais de saúde.
“Criar ambientes, criar incentivos para médicos que estão nos estrangeiros, na diáspora, em Portugal, Brasil e outros lugares, para regressar a Cabo Verde, temos que começar a pensar em um sistema económico que atraia esses profissionais, porque há outros países que também têm necessidades, e vão correr atrás dos nossos profissionais e nós temos que saber competir nesse mercado”, sublinhou.
Sobre o simpósio “A Integração de Robótica e Inteligência Artificial na Saúde: Partilhas e Desafios”, que acontece esta sexta-feira, na Cidade da Praia, Júlio Teixeira defendeu que Cabo Verde deve dar um salto tecnológico, sem necessariamente replicar todos os passos já dados por outros países.
Na sua opinião, apesar de o arquipélago lidar com recursos limitados, é essencial alimentar a curiosidade e a vontade de inovação dos profissionais nacionais.
“Quanto mais somos estimulados intelectualmente, mais interesse temos em estar envolvidos nestas práticas”, concluiu.
O encontro decorreu na Ordem dos Médicos Cabo-Verdianos (OMC) e reuniu médicos, investigadores, especialistas e profissionais da área da saúde e da tecnologia.
Inforpress/Fim