O Mestre-Sala, bicampeão do Carnaval de São Vicente, 202 pelo Flores do Mindelo e 2024 pelo Estrela-do-mar, Stiven Fortes Évora, mais conhecido por “Ské” no mundo artístico, como forma de contribuir para levar o Carnaval além-fronteiras, encontra-se em Portugal, na sequência de um convite do TMC Internacional, para que junto com o projeto demonstrar um pouco do trabalho do Carnaval a diáspora.
Apesar de realidades diferentes no que toca ao carnaval, já que São Vicente sempre “virou” para o Brasil, no que diz respeito ao carnaval, o mestre-sala e bailarino mindelense diz que foi uma proposta que recebeu do TMC e de alguns outros imigrantes que o queriam conhecer, por isso abraçou o desafio.
E nestes meses que tem estado em Portugal, Ské garante que tem conseguido de uma forma “suave e criativa” apresentar o nível e como que o Carnaval de São Vicente está evoluindo rápido e ganhando brilho a cada ano.
“A resposta recebida foi satisfatória. Consegui captar a sua atenção, deixando-os surpreendidos, porque todos pensavam que eu era algum brasileiro, mas ficaram admirados quando alguns deles descobriram a minha identidade cabo-verdiana”, explicou o jovem dançarino.
A escolha de Portugal, Europa, não é atoa. Diz que ainda falta muito para atingir o seu objectivo que é competir representando Cabo Verde com a “elite carnavalesca” que tem no Brasil. “São duas realidades diferentes, por isso comecei na Europa, para abrir outras portas e oportunidades, quem sabe, para outros colegas que têm trabalhado árduo nessa área”.
Acredita que o sucesso não é individual, é fruto de um trabalho de grupo, das referências que teve, das pessoas que trabalham juntos e assim valorizar cada vez mais o trabalho que vários cabo-verdianos têm feito no desenvolvimento e exportação do carnaval de São Vicente.
O projecto, prosseguiu, começou na Holanda, onde frequentou uma escola de samba com uma professora cabo-verdiana conhecida por Lita. “Fizemos intercâmbio, junto com suas alunas, também conheci dois grandes passistas de São Paulo, o grupo Metodo MP que tive prazer de aprender o seu estilo de samba e apresentar o meu também, e também em Portugal, estive em Ovar recebi convite de participação num grupo conhecido por Charanguinha”.
Ou seja, tem sido uma experiência “enorme” para o bicampeão do carnaval de São Vicente, que apesar do pouco tempo, ainda não sabe se vai estar na Rua de Lisboa para “cativar” o público e fazer o que sabe melhor.
“Infelizmente com a data dos workshops que tenho que completar ainda aqui na Europa, não vou conseguir, tentar disputar o tricampeão”, lamentou “Ské” que garante, no entanto, que gostaria muito de estar presente e apresentar o que tem apreendido.
Apesar de 2023 e 2024, terem sido os anos da consagração da sua posição como mestre-sala do carnaval de São Vicente, diz que o ano de 2019 foi o pior desfile e a pior performance de toda a sua vida.
“Um ano em que nada dava certo, tanto por causa do traje, e também porque tinha feito uma cirurgia no pé, duas semanas antes do carnaval e mesmo assim estive lá a esforçar para que conseguisse agradar ao público, só que consegui dar apenas 10% do meu trabalho”, relembra Ské.
Entretanto, após em 2020 voltou a carga não conseguiu o almejado título. Em 2021 e 2022 não teve carnaval, mas em 2023 recebeu o convite do Grupo Flores do Mindelo, brilhou no “sambodromo mindelense” e levou o almejado título. Neste mesmo ano, em parceria com o irmão, o artista “kré”, gravaram a música do grupo, “Duas Caras”.
Em 2024 voltou para o bis, desta vez para defender uma nova Bandeira, a do Estrela do Mar.”Não foi fácil, mas a minha força veio de todos aqueles que estiveram à volta, dando apoio, familiares, amigos, a escola e o facto de ter ido para um grupo que estava na última posição, a minha contribuição e dedicação será igual para todos, sustentou.
Sobre os altos e baixos, diz que o que o mantém em forma e com vontade de estar no topo é que gosto de manter uma visão clara sobre os seus objectivos. “Além de brincar o carnaval temos que assumir responsabilidade se lidar de forma profissional, dedicando a cada dia, treinando, ensaiando, independentemente de sair ou não, mas manter a responsabilidade de estar em forma para representar o grupo”, justificou.
Amante da dança, alega que consegue com isso levar alegria e entusiasmo a quem o assiste. Mas o samba não é o estilo preferencial. Começou no Hip Hop e principalmente Breakdance, passando por danças tradicionais de Cabo Verde, Kizomba, e algumas danças Latinas.
O primeiro foi o que vi pela primeira vez ao vivo a dançar, e decidi que queria ser como ele, e até disse a ele que queria concorrer contra ele no Brasil, “Marlon Lamar” Mestre Sala da Portela, depois são os Veteranos com quem tive prazer de conhecer e receber ideias e críticas construtivas e tirar sempre minhas dúvidas, “Claudinho”Beija Flor e “Sidclei”Salgueiro.
Em relação a porta-bandeira, ela que foi também a primeira, e que acreditou em mim, “Lucinha Nobre” Tijuca, sempre que fazia algo não tava certo levava um raspanete. Mas foi uma boa professora.
Bom a parte fácil e que mais gosto é de transmitir alegria com um sorriso mesmo que estejamos cansados e sem força, mas a parte difícil começa a partir do momento que se aceita o convite, porque inicia-se uma correria atrás de treinos, roupas, convivência com pessoas, porque chega uma altura se não soubermos separar as coisas competição e do profissional, começa a gerar uma rivalidade e por vezes negativa, porque todos estamos a competir, todos queremos ganhar, e devido a esse fluxo de pensamentos começamos a ficar com raiva fazendo de amigos ou conhecidos inimigos.
Essa é a parte mais difícil de ser mestre-sala e porta-bandeira.
O meu sonho é competir no Brasil, e o meu objectivo é abrir uma escola de dança para mestre sala e porta bandeira, para preparar futuros mestres e porta-bandeiras, e também abrir uma sala de treino específico para casais oficiais que vão concorrer.
Falta agora apoio para realização desse objetivo.
NN