Assad assegura que a Síria vai cumprir “sem limites, e até onde for preciso”
Em entrevista ao canal televisivo italiano RaiNews24, este domingo, o presidente Bashar al-Assad afirmou que vai respeitar os acordos da Organização das Nações Unidas sobre armas químicas.
“Nós aderimos ao acordo internacional contra a aquisição e o uso de armas químicas mesmo antes dessa resolução ser aprovada”, afirmou o presidente Bashar al-Assad quando questionado sobre se a Síria se adequaria à resolução adoptada na sexta-feira. O presidente sírio quis deixar claro que não encara a resolução como uma imposição: “Não é sobre a resolução, na verdade é sobre a nossa vontade. Claro que temos essa vontade porque em 2003 propusémos ao Conselho de Segurança das Nações Unidas eliminar essas armas no Médio Oriente”, afirmou.
Bashar al-Assad disse ainda não ter quaisquer “reservas” relativamente à resolução e que a Síria vai cumprir “sem limites, e até onde for preciso”. Pela primeira vez em dois anos, houve acordo no Conselho de Segurança para aprovar uma resolução sobre a Síria – Damasco tem nove meses para destruir armas químicas que até há duas semanas não admitia sequer que existissem. O texto votado no passado dia 27 de Setembro nas Nações Unidas não prevê sanções automáticas no caso de incumprimento, o que permitirá à Rússia bloquear no futuro a punição do seu aliado, mas o fim do impasse fez pelo menos renascer a esperança de um impulso diplomático para negociar uma saída para o conflito.
Questionado pela jornalista da RaiNews24 sobre os planos do governo sírio para desmantelar o armamento químico, Assad remeteu para as Nações Unidas: “É uma questão que deve ser dirigida à organização em si porque o nosso papel é fornecer dados e facilitar os procedimentos [da ONU]”, defendeu.
ONU estuda pedido a Damasco de acesso das agências humanitárias à população síria
O Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas deverá analisar na segunda-feira um projecto de declaração que pede a Damasco o acesso das agências humanitárias da ONU à população síria.
O texto deverá pedir especificamente a autorização de comboios de ajuda humanitária provenientes de países vizinhos, mas a Rússia, membro permanente do CS e aliada do regime do presidente sírio Bachar al-Assad, deverá opor-se à possibilidade da ajuda entrar na Síria através de zonas fronteiriças controladas pela oposição, indica a AFP, que cita fontes diplomáticas.
Este projecto de declaração da presidência – que não é uma resolução e requer a unanimidade do CS – é proposto pelo Luxemburgo e pela Austrália, país que preside ao organismo até ao final de Aetembro e está particularmente empenhado na adopção rápida da declaração.
Trata-se, de acordo com as fontes contactadas pela AFP, de aproveitar o bom momento diplomático iniciado coma resolução que autoriza a destruição de armas químicas detidas pelo regime de Assad. No projecto de declaração – texto a que a AFP teve acesso -, o Conselho declara-se “consternado pelo nível crescente e inaceitável da violência e pela morte de mais de 100 mil pessoas na Síria”.
Cerca de cinco milhões de sírios foram deslocados ou forçados ao exílio pela guerra, mas, de acordo com a ONU, o Governo de Damasco reduziu a autorização de visas às agências humanitárias e à ONU, assim como colocou condições estritas à entrega de ajuda, em particular nas zonas controladas pela oposição.
O parágrafo mais controverso, segundo a AFP, deverá ser aquele em que o CS convida Damasco a autorizar “um acesso livre e seguro à população que necessite de ajuda, pelos meios mais eficazes, incluindo através das linhas da frente e, quando se justificar, através das fronteiras com os países vizinhos”.
A Austrália e o Luxemburgo estão a trabalhar nesta declaração desde Abril, mas o dossier das armas químicas reclamou a atenção dos países membros do CS. O embaixador australiano junto do CS da ONU, Gary Quinlan, anunciou na passada sexta-feira que o seu país iria tentar submeter o texto à discussão com o objetivo da sua adoção no início da semana.
“A catástrofe humanitária não para de se agravar”, todos os dias chegam 6 mil novos refugiados aos países vizinhos da Síria, sublinhou.
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