Liderança tem de assumir responsabilidades pelo desaire eleitoral – Orlando Dias

5/12/2024 17:03 - Modificado em 5/12/2024 17:03

Pela primeira vez na história do Poder Local, o MpD perde umas eleições autárquicas, para mais, de uma forma absolutamente esmagadora, passando de catorze para sete câmaras municipais. Por arrasto, perde a presidência da Associação Nacional dos Municípios Cabo-verdianos.

Aparentemente, a liderança do Partido desvaloriza estes factos, argumentando que se trata de consequências do jogo democrático…

Ao contrário de ter dado a cara logo na noite eleitoral, o presidente do MpD preferiu esconder-se dos jornalistas, empurrando o secretário-geral para tecer considerações vazias, desprovidas de objetividade e parecendo referir-se a uma outra realidade que não aquela que se abateu sobre os militantes: um desaire eleitoral sem precedentes!

No dia a seguir às eleições, Ulisses Correia e Silva, pressionado pelos jornalistas, lá teceu os primeiros comentários, mas, ao contrário de assumir com clareza as responsabilidades da derrota, preferiu argumentar que se terá de analisar caso a caso, município a município, para determinar o que se terá passado.

Para a opinião pública passou a ideia que as responsabilidades da derrota esmagadora terão de ser imputadas às candidaturas e aos candidatos, passando por cima de serem escolhas políticas do presidente do MpD e por si impostas ao Partido.

Liderança nega as evidências

Contrariando o consenso generalizado entre analistas e agentes políticos, a liderança do Partido nega as evidências, procurando mascarar a realidade. De facto, é evidentíssimo que o resultado das eleições de 01 de dezembro são um cartão vermelho ao governo e, em particular, ao primeiro-ministro, como, aliás, indicavam com antecedência vários estudos de opinião.

Nos últimos dois anos, enquanto deputado e no decurso das eleições internas de abril de 2023, venho alertando a liderança do MpD para a necessidade de fazer uma remodelação governamental, reduzindo o número absurdo de membros do executivo e promovendo reformas estruturais para o País, mas também reduzindo substancialmente a máquina do Estado. O líder do Partido e primeiro-ministro nunca ligou às minhas preocupações e, mais grave que isso, nunca entendeu os evidentes sinais que vinham da sociedade.

Se me tivessem ouvido, se tivessem escutado a sociedade e os lamentos do povo, seguramente, não estaríamos hoje confrontados com a maior derrota eleitoral do MpD.

Ulisses Correia e Silva e o seu círculo mais íntimo não escutam as pessoas, adotam atitudes de arrogância e não têm a humildade e a coragem política de assumirem os seus erros. São um corpo avesso aos questionamentos da militância e da cidadania!

Descaracterização do partido

Durante quase 12 anos, esta liderança do MpD descaracterizou o Partido, secundarizou as bases e transformou-o numa espécie de sociedade anónima, onde só têm a palavra o “conselho de administração” e os principais “acionistas”. Ulisses e o seu círculo mais íntimo abafaram o debate interno e substituíram a democracia por uma legião de batedores de palmas e cabos eleitorais. E, mais ainda, contra todos os princípios republicanos e democráticos, fraudaram as eleições internas e promoveram a transgressão, com o descarregamento generalizado de votos.

Esta é a realidade que toda a gente conhece, da qual muitos foram cúmplices, senão mesmo executantes diretos. E, ironias do destino, alguns deles apresentam-se agora como críticos de Ulisses e defensores de reformas no Partido. Chegaram tarde, mas, mesmo assim, sejam bem-vindos.

Uma liderança esgotada

Esta liderança de quase 12 anos está completamente esgotada, já não tem mais nada a oferecer ao Partido nem ao País, por isso, foi derrotada nas urnas. Porque é isso mesmo que aconteceu e não há nenhum negacionismo que mascare o problema.

Nesse sentido, seria natural que o presidente do MpD (bem como todos os seus vices) pusesse o seu cargo à disposição e o Partido marcasse, desde já, uma Convenção Nacional Extraordinária, organizada de forma transparente, idónea e republicana, para debater a crise interna do MpD, a situação política nacional e a necessidade de respostas adequadas para enfrentar o novo ciclo político.

Paralelamente, deveriam ser convocadas eleições internas para que o líder eleito tivesse tempo e condições políticas para introduzir reformas profundas no Partido, apresentar novos compromissos de governação do País e enfrentar com êxito a disputa eleitoral de 2026.

Orlando Dias

Deputado Nacional

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