A greve de 72 horas abrange as ilhas de S. Vicente, Santo Antão, S. Nicolau, Sal, Boa Vista, Maio, Santiago, Fogo e Brava.
Os sete sindicatos que representam os profissionais de saúde de Cabo Verde anunciaram hoje, 23 de julho, uma greve de 72 horas (31 de julho a 3 de agosto) em todo o país abrangendo todas as classes profissionais das estruturas de saúde. Em causa o incumprimento de um acordo assinado há cerca de nove meses com vista à resolução dos problemas do sector.
“A greve terá início às 8 horas da manhã do dia 31 de julho, quarta-feira, e término às oito horas de manhã do dia 3 de Agosto, sábado, e afetará todos os departamentos e serviços de saúde em todas as ilhas habitadas de Cabo Verde e abrange todas as classes profissionais que exercem funções nas estruturas de saúde das referidas ilhas”, anunciaram em conferência de imprensa, no Mindelo o representante dos sete sindicatos.
O sindicalista Luís Fortes, diz que o pré-aviso de greve que foi entregue ao Ministério da Saúde e a Direção-Geral de Trabalho, DGT, visa exigir o cumprimento do acordo denominado “Acordo Sindical para revisão da Carreira Médica e Carreira de Enfermagem e criação da carreira do pessoal técnico da saúde, dos inspetores de saúde e do pessoal de apoio operacional das estruturas de saúde”.
Descontentes e revoltados com o incumprimento do governo dos 11 os pontos reivindicados pelos profissionais da saúde, que exigem uma revisão do salário base conforme a especificidade do serviço prestado, aumento das remunerações das horas extras, a criação de um subsídio de risco, a revisão da tabela salarial da carreira médica, a implementação do descanso semanal para o pessoal em regime de turno como manda a lei; os trabalhadores querem ainda a revisão da tabela salarial da carreira de enfermagem e a sua regulamentação, que seja criada a carreira dos Técnicos de Saúde, Gestão e Sistema, que seja publicado o plano de cargos, carreira e salários do INSP, com efeito, a partir de 2024.
“Vejam que o nosso acordo foi assinado em novembro de 2023, precisamente, para que, no Orçamento de Estado 2024, tivessem alocado recursos para as despesas de implementação dos PCFR. E que o OE deste ano traz um aumento salarial de 3%, contudo nenhum profissional do quadro especial contemplado com este aumento”, atirou Luís Fortes.
É que, dizem, o sistema de saúde está à beira do colapso, portanto a ideia da grave, conforme o médico Tito Rodrigues, serve, exatamente, para criar um impacto nacionalmente e mostrar as vulnerabilidades existentes no sector. “A razão de fazê-la é porque nós, os profissionais de saúde, constatamos que as nossas reivindicações não estão a ser levadas em conta e o nosso sistema de saúde está numa situação crítica”, apontou.
E que existe, prosseguiu, um “desinvestimento” no sector e um retrocesso, que segundos dizem “estão a trabalhar no limite” e que é quase impossível fazer uma greve porque “já estivemos em situação inferior aos serviços mínimos”.
Ou seja, afirma que há uma sobrecarga dos serviços de saúde para garantir os serviços continuados, com efetivos abaixo do serviço mínimo. “Deverá ter impacto e haverá requisição civil, porque os efetivos que temos nem chegam aos que deviam ter” e denuncia uma tensão constante dos profissionais que trabalham com cargas de horários “desumanos”.
“Temos enfermeiros no mercado, e que não estão a ser recrutados”, elencou Tito Rodrigues que cita técnicos de análise e de radiologia, e veem o futuro do sector de forma sombria, conforme dados avançados na conferência de imprensa, com os representantes dos sindicatos SINTAP, SINTCAP, SLTSA, SISCAP, SICOTAP SINMEDCV e SINDEF.
Elvis Carvalho
Há 7 anos, RX do HBS contava com 10 téc., que lhes permitia operar com relativa eficiência. Desses, 4 eram para urgências, enquanto 6 atendiam à demanda ordinária. Não era o ideal, mas mantinham um serviço de qualidade. Aposentaram 8 e nomearam apenas 1 novo, hoje operam com 3 téc. Esses têm condições de trabalho extenuantes, com uma carga de 12 horas e, nas férias, poderá ser de 24 horas. Além de comprometer a saúde dos téc., afeta a qualidade do atendimento. Para agravar, não têm condições para registar a radiação ionizante que absorvem, expondo-os a riscos sérios e incalculáveis, inaceitável num ambiente onde a segurança deve ser uma prioridade absoluta. E, como se não bastasse, a tabela de remuneração para as “VELAS” está estagnada há 30 anos, sem atualização. Os téc. são obrigados a trabalhar em condições precárias, sem a devida valorização financeira que seu esforço e dedicação merecem.