A guerra no Sudão provocou “uma das piores crises humanitárias” no mundo desde há décadas, afirmou hoje o presidente internacional da Organização Não-Governamental (ONG) Médicos Sem Fronteiras, ChristosChristou.
A guerra eclodiu em abril de 2023 entre o exército, liderado pelo general Abdel Fattah al-Burhane, e as forças paramilitares de apoio rápido (RSF) do seu antigo adjunto, o general Mohamed HamdaneDaglo.
O conflito causou dezenas de milhares de mortos e deslocou mais de nove milhões de pessoas, segundo a ONU.
“O Sudão está a ser marcado por uma das piores crises a que o mundo assistiu em décadas (…) e a resposta humanitária é profundamente inadequada”, afirmou Christou na rede social X (antigo Twitter).
“Há níveis extremos de sofrimento em todo o país e as necessidades aumentam de dia para dia”, acrescentou.
Ambas as partes foram acusadas de crimes de guerra por terem deliberadamente visado civis, bombardeado áreas povoadas e bloqueado a ajuda humanitária, apesar da ameaça de fome que milhões de sudaneses enfrentam.
Grupos de defesa dos direitos humanos e os Estados Unidos acusaram também os paramilitares de limpeza étnica e de crimes contra a humanidade.
Na semana passada, os Estados Unidos anunciaram 315 milhões de dólares (294 milhões de euros) em ajuda de emergência para o Sudão e apelaram a ambas as partes para que permitissem o acesso à ajuda humanitária, alertando para o facto de o país estar ameaçado por uma fome de proporções históricas.
A embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, disse que a fome no Sudão pode atingir níveis nunca vistos desde a fome na Etiópia no início dos anos 80, que matou 1,2 milhões de pessoas.
“As projeções de mortalidade indicam que mais de 2,5 milhões de pessoas – cerca de 15% da população – em Darfur e Kordofan, as regiões mais afetadas, poderão morrer até ao final de setembro”, alertou.
“Esta é a maior crise humanitária do planeta e ameaça agravar-se ainda mais com a aproximação da estação das chuvas”, acrescentou.
As Nações Unidas estimam que cinco milhões de pessoas no Sudão estão a sofrer de fome extrema, enquanto a comida também escasseia nos países vizinhos, onde dois milhões de sudaneses se refugiaram.
Os esforços repetidos dos Estados Unidos para pôr fim ao conflito falharam.
Vários países estrangeiros deram o seu apoio a ambos os lados. O Sudão expulsou diplomatas dos Emirados Árabes Unidos por suspeita de apoiarem as RSF, enquanto o Egito, a Turquia e o Irão declararam apoiar o exército.
De acordo com os MSF, os recentes combates em el-Facher, a última cidade do Darfur fora do controlo dos paramilitares, fizeram mais de 220 mortos.
Na semana passada, o Conselho de Segurança da ONU adotou uma resolução exigindo o fim do “cerco” de el-Facher pelas RSF e apelou a “todos os Estados-membros para que se abstenham de qualquer interferência externa”.
Na terça-feira, o embaixador do Sudão na ONU acusou os Emirados Árabes Unidos, numa reunião do Conselho, de serem responsáveis pela continuação da guerra. O representante dos Emirados Árabes Unidos rejeitou a acusação.
Os Médicos Sem Fronteiras no Sudão informaram na rede social X que em Omdurman, o hospital Al-Naw, “apoiado pelos MSF”, tinha sido alvo de um bombardeamento na quarta-feira, que fez pelo menos três mortos e 27 feridos. Segundo a mesma fonte, foram efetuados bombardeamentos intensos nos arredores da cidade.
LUSA