Transformação do Setor Lácteo em São Vicente: Um ano de avanços e desafios no Projeto Consórcio de Leite da AAN

18/06/2024 11:49 - Modificado em 18/06/2024 11:49
Aguinaldo David – Diretor executivo da Associação dos Amigos da Natureza (AAN)

Num esforço para reduzir a dependência de importações e valorizar a produção local, o projeto Consórcio de Leite, iniciado em 2023, garante “avanços” no fortalecimento do setor lácteo na ilha de São Vicente. Em entrevista exclusiva ao Notícias do Norte, Aguinaldo David, diretor executivo da Associação dos Amigos da Natureza (AAN), avança que as obras da maior unidade de transformação do leite estão em andamento.

O projeto Consórcio de Leite da AAN, financiado pela CEDEAO e pela Cooperação Suíça para o Desenvolvimento, tem três eixos principais de intervenção, conforme Aguinaldo David.

“Estamos a melhorar as instalações e a prever a importação de raças melhoradas das Canárias, um arquipélago com características semelhantes às de Cabo Verde,” explicou o Diretor Executivo da AAN.

Estas melhorias, sublinhou, são essenciais para aumentar a eficiência da reprodução e distribuição de animais de raça melhorada, o que, por sua vez, aumentará a produtividade do setor lácteo.

Acrescentou que além disso, há um foco significativo na melhoria das condições de produção de queijos e outros derivados do leite. A modernização das instalações, disse, permitirá um processamento mais eficiente e higiênico, elevando a qualidade dos produtos locais e tornando-os mais competitivos no mercado.

Capacitação e Formação de Agricultores

Outro pilar fundamental do projeto é a capacitação dos agricultores. “Estamos a formar os produtores em áreas essenciais como alimentação e nutrição animal, saúde animal e reprodução,” destacou David. Essas formações são vitais para garantir que os agricultores adotem técnicas sustentáveis e aumentem a produtividade de seus rebanhos.

A capacitação também inclui a introdução de práticas inovadoras, como a produção de forragem hidropónica. “Estamos a explorar soluções de produção forrageira hidropónica sem a utilização de produtos químicos,” afirmou. Essas técnicas são particularmente importantes em um contexto de seca prolongada, permitindo que os agricultores mantenham a produção mesmo em condições adversas.

Criação de um Consórcio de Produtores

A formação de um consórcio de produtores é o terceiro eixo do projeto. “A ideia é agrupar todos os produtores de São Vicente para criar uma organização que lhes permita apoiar-se mutuamente,” explicou, sublinhando que esse consórcio facilita a troca de conhecimentos e recursos, fortalecendo a comunidade agrícola e aumentando a resiliência dos produtores.

Apoio Logístico e Melhoria da Infraestrutura

O projeto também está equipando três mini-leiteiras em Lameirão, Coral de Tortolho e na UTAGA (Unidade de Transformação Agroalimentar). “Vamos apoiar os criadores com equipamentos e introdução de raças melhoradas,” afirmou David.

Este apoio logístico é crucial para melhorar a infraestrutura de produção e garantir que os produtos lácteos locais atendam aos padrões de qualidade e higiene necessários para competir no mercado nacional.

Desafios Administrativos e Climáticos

Apesar dos progressos, o projeto enfrentou vários desafios, particularmente no que diz respeito à isenção do IVA. “A isenção é um custo não elegível para o financiador, o que causou atrasos na aquisição de bens e serviços,” explicou David. No entanto, os obstáculos foram superados, permitindo que o projeto continue avançando.

A seca prolongada também representa um desafio significativo. “A produção de leite depende muito das chuvas, e a seca tem reduzido o efetivo em São Vicente,” comentou David, que apontou como resposta deste obstáculo, à implementação de técnicas adaptadas para mitigar os efeitos da seca, como a fenação e conservação de pastos, além de explorar o uso de bagaço como ração.

O Consórcio de Leite é uma iniciativa regional financiada pela CEDEAO, criada devido ao significativo efetivo de ruminantes na região. Apesar disso, a dependência da importação de produtos lácteos, especialmente da Europa, é alta, com Cabo Verde produzindo apenas 15% do leite que consome sendo que a maior parte, 85% é importada.

Esta dependência gera altos custos de importação, mesmo havendo potencial local não aproveitado. Em resposta, a CEDEAO convocou projetos em 15 países, e a Associação dos Amigos da Natureza, junto com parceiros como o Ministério da Agricultura e a Câmara fde Comércio, apresentou o Consórcio de Leite. O projeto, financiado pela CEDEAO e pela Cooperação Suíça para o Desenvolvimento, está em andamento e visa grandes avanços no setor lácteo local.

AC – Estagiária

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