O projeto de desenvolvimento de uma frota pesqueira do camarão soldado em Cabo Verde, assegurou, hoje, 06 março 2023, que a pesca deste produto é sustentável apontando, que inicialmente vai ser uma frota de 6 navios do país para aproveitar “este grande manancial” de camarão soldado que o país dispõe.
Nesta segunda-feira, o Centro Oceanográfico do Mindelo (OSCM – sigla em inglês), do Instituto do Mar (IMar) em Cova de Inglesa, São Vicente, recebeu uma apresentação dos resultados finais deste projeto, que segundo o coordenador internacional do estudo, José António Gonzalez, foram satisfatórios e que cerca de 100 pescadores marinheiros foram treinados do ponto de vista de confecção dos covos semi flutuantes, arte da caçada de covos, mas também um ponto muito importante que é a qualidade do produto.
“Um fato muito importante é que este é um produto absolutamente cabo-verdiano, selvagem e sustentável que vai ser apanhado pela frota semi-industrial cabo-verdiana, mas com arte de pesca, artesanal, respeitoso com o ambiente. Este é um ponto muito forte”, assegurou Gonzalez em declarações à imprensa.
O segundo resultado importante, segundo este responsável, deste projeto é a polivalência e a versatilidade que os navios adquiriram.
“Portanto, eram navios que apenas estavam a trabalhar a rede de cerco, grandes cercadores, mas agora temos uma polivalência em que aquelas semanas em que a lua não está para cavala preta, olho largo, etc, vão poder sair para pescar camarão soldado com linha de mão”, explicou José Gonzalez que acrescenta que esta modalidade de pesca passa para três e resolve também o problema de lagosta-rosa.
Agora são os armadores que são responsáveis por começar a pescar e a vender e dinamizar a cadeia de valor empresarial.
O camarão soldado está mais presente na área da Boavista, banco de pesca de João Valente, e na ilha do Maio, que tem a maior plataforma do país “porque tem muita areia e se tem que afastar com o navio desde 2 milhas até conseguir a profundidade certa”.
O camarão soldado pode ser encontrado a uma profundidade de 100 a 150 metros de em uma temperatura média de 14 graus centígrados celsius. Condições essas que estão presentes nesta região de Boavista e Maio, e, acrescentou, tem o maior recurso, perto de 75% do recurso de todo o país.
O que é de lamentar, afirmou, é que Sal Rei não tem melhores condições, por falta de uma frota, não tem muitas infraestruturas de frio, o que para Gonzalez é “curioso”.
“Os navios do Sal vão ter que navegar mais um bocado, trabalhar a volta e poderão descarregar Palmeira, Santa Maria, Sal Rei, Praia, e ai vai estar o segundo maior manancial que são as ilhas do Barlavento (Santo Antão, São Vicente Santa Luzia, ilhéus e São Nicolau)”,
O mentor deste projeto garante que não há riscos para a exploração deste produto, justificando que este está em reprodução permanente, é abundante e é uma garantia que não haverá necessidade de introduzir defeso.
“O que temos que fazer é monitorar a pescaria e ter a precaução de não carregar com esforço de pesca muito grande. Podemos colocar um valor, por exemplo, de 250 covos por jornada de pesca e navio para não ultrapassar este valor”, assegurou, adiantando que o importante é desenvolver a pesca de forma gradual.
O mercado para escoar este produto são os hotéis e restaurantes e a exportação é numa segunda fase.
“Estamos longe da exportação neste momento. Talvez daqui a 2 ou 3 anos podemos negociar com companhias aéreas de meter até 400 kg deste produto no porão e colocar em mercados como Canárias, Itália”, finalizou.
O projecto de desenvolvimento de uma frota pesqueira de camarão soldado (Plesionika edwardsii) em Cabo Verde teve uma primeira fase na ilha de São Vicente (2021 – 2022) e uma segunda fase na ilha do Sal (2022 – 2023).
O programa é desenvolvido em parceria com a Associação dos Armadores de Pesca (APESC) e com a Fundação Parque Científico Tecnológico da Universidade de Las Palmas Gran Canaria, entre outros parceiros.
AC – Estagiária