O presidente da República de Cabo Verde, José Maria Neves, fez críticas ao governo por tomar decisões de políticas públicas que levam a retrocesso em setores vitais do país, afirmando que tais decisões não foram suficientemente amadurecidas e levam ao desgaste e ao cansaço das instituições.
O presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, fez uma declaração ao país na cidade da Praia, criticando o governo liderado desde 2016 por Ulisses Correia e Silva por tomar decisões que levam a retrocesso em setores vitais do país. Segundo o chefe do Estado, tais decisões não foram suficientemente amadurecidas e levam ao desgaste e ao cansaço das instituições.
“Legitimamente, a nação inquieta-se e indigna-se com o inegável retrocesso em setores vitais ao nosso Estado arquipélago. Verifico com preocupação que são tomadas decisões cujo propósito e cuja lógica não se entendem, principalmente quando tudo levava a crer que medidas iam ser tomadas e elas até já haviam sido anunciadas, mas eis que as instituições públicas recuam e se apequenam”, afirmou José Maria Neves.
Neves não citou o governo ou casos específicos em sua declaração, mas ela surge em meio a forte contestação ao executivo devido à qualidade do serviço dos transportes marítimos e ao recente aumento de até 80% nas tarifas, que foi parcialmente suspenso devido a erros de cálculo.
O presidente cabo-verdiano afirmou que é necessário fazer diferente e melhor e que Cabo Verde não pode dar-se ao luxo da experimentação como método de gestão do interesse público. “Isso é deplorável, é custoso, descredibiliza os serviços públicos, a política e os políticos, além de levar ao desgaste e ao cansaço das instituições”, disse.
Neves observou que a prestação de alguns serviços contratualizados tem sido “dececionante”, com reclamações generalizadas, provocando “reações e alertas da sociedade às mais altas autoridades políticas e religiosas”. Criticou ainda o clima de disputa política permanente em Cabo Verde, que “sufoca a sociedade” e é “permeável ao clientelismo e ao medo”.
“Constatamos um clima preocupante e persistente de excessiva partidarização do espaço público. Assistimos a uma disputa política permanente que sufoca a sociedade. Este ambiente é permeável ao clientelismo e ao medo, com as pessoas a serem escolhidas para cargos públicos e promovidas menos pelo mérito e mais pelas suas relações de amizade ou pela sua lealdade a partidos”, afirmou.
Por seu turno, destacou que é importante que os poderes públicos deem permanentes provas de serenidade e firme defesa das regras e valores da sociedade democrática, desde logo os atinentes à livre expressão do pensamento, das ideias, da palavra. Defendeu ainda que a afirmação da cidadania ativa e o desinibido exercício do direito.