Dia da Mulher cabo-verdiana: Aos 65 anos o futebol continua a ser a paixão de “Tanhuca”

27/03/2024 18:33 - Modificado em 27/03/2024 18:45

A terceira edição do torneio de futsal “Amdjer d’nós Terra”, que este ano foi alargado a todas as ilhas de Barlavento e que reúne em São Vicente mais de 150 atletas, contou com a realização de um jogo entre a seleção de veteranas, com participação de, Antónia “Tanhuca” do Rosário, de 65 anos, e outra equipa formada por atletas de instituições da ilha.

Nascida na zona da Bela Vista, “Tanhuca” madrinha do torneia este ano, já que no ano passado foi homenageada, afirma que o futebol sempre foi o seu escape dos afazeres de casa. “Sou apaixonada pela modalidade. Desde criança, quando tive o primeiro contacto com o futebol, devia ter uns 7/8 anos, nunca mais larguei”, começa por contar a sexagenária, apesar dos obstáculos que diz ter enfrentado.

A mãe era a principal, mas devido à sua teimosia, conseguiu manter-se firme no futebol até começar a jogar por equipas femininas da ilha.

Conta que tinham outras pessoas, que não viam com bons olhos uma menina a jogar no meio de rapazes, toda suja, com vestido rasgado e pés no chão. “Estamos a falar dos anos antes de 70”, atirou “Tanhuca”, que sempre foi vista como um modelo, por pais das outras meninas, de como uma menina não deveria ser.

“Quando não se queixavam com a minha mãe, tentavam fazer-me sentir menos daquilo que era, só porque gostava de estar descalça e jogando futebol na terra batida com um bando de rapazes”, refere a veterana sorridente ao lembrar dos jogos e de tudo que estava à volta. “Foram alguns dos meus melhores anos”  

Mesmo agora, o seu principal programa é ver futebol. Não perde um jogo da sua equipa, o Clube Sportivo Mindelense, seja feminino ou masculino, e nem do Benfica na televisão.  

Com dois irmãos mais velhos e com a mãe a trabalhar, via aqui a oportunidade de se esgueirar para a rua para ir jogar futebol. Nunca se sentiu atraída em brincar de bonecas, ou jogar ringue, mas o futebol, quando via os meninos a correr atrás da bola, a adrenalina que exalava a alegria, diz que tudo isso era contagiante e apaixonada.

Apesar de no início não sabia jogar, insistiu até conseguir o domínio da bola e continuar a jogar até aos 63 anos, altura que resolveu pendurar as chuteiras

A primeira equipa federada foi a EPIZ, uma equipa montada por José Maria “Djedje” Ramos, um dos grandes incentivadores do desporto em Cabo Verde e depois seguiu-se para o Mindelense. “Éramos boas. Não estou a gabar. A equipa que tínhamos naquela altura era excelente”, apontou “Tanhuca”

Diz que teve o primeiro dos seus seis filhos, aos 18 anos de idade. Os filhos, quatro rapazes e duas meninas seguiram as pisadas da mãe no futebol. O mais novo joga pelo Castilho, equipa da primeira divisão do futebol de São Vicente. Os restantes jogaram também.

Quando mais nova, na zona de Bela Vista, conta que faziam convívios com as filhas e jogavam juntas. 

“Até fui derrubada algumas vezes por elas”, mas estas são memórias que a deixam realizada, já que seguiu a sua paixão, fez amigos e gosta de estar por dentro do futebol da ilha e do país.

Elvis Carvalho

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