Os vírus estão em constante mutação e são esperadas novas variantes. As explicações são da médica Ana Isabel Pedroso, Assistente Hospitalar de Medicina Interna no Hospital de Cascais.
As estirpes formam-se quando uma espécie sofre mutações significativas ou quando novas gerações se adaptam a condições ambientais apresentando novas características que passam aos descendentes.
É no fundo uma questão adaptativa dos vírus e é essa capacidade que lhe confere sobrevivência.
Uma vez que os vírus estão em constante mutação são então esperadas novas variantes.
Em relação ao vírus responsável pela COVID-19, sabemos neste momento que existem três variantes mais perigosas: a que surgiu no Reino Unido, a da África do Sul e a brasileira.
As diferentes residem sobretudo na sua capacidade de causar infeção, uma vez que os indivíduos por elas infetados tendem a apresentar uma carga viral superior.
A variante que surgiu no Reino Unido – B.1.1.7 – transmite-se mais facilmente (até cerca de 70% vezes mais) do que todas as outras variantes, uma vez que os infetados apresentam também uma carga viral superior. Foi identificada em setembro de 2020.
Inicialmente em Londres, chegou rapidamente a Portugal e já temos milhares de pessoas infetadas com esta estirpe. Sabemos também que é responsável por grande parte das novas infeções em Lisboa e Vale do Tejo e prevê-se que já afete mais de metade do total de novos infetados em Portugal. Tem uma mortalidade associada à doença grave superior em 30%.
Uma questão interessante desta estirpe, é que no Reino Unido infetou em proporção mais jovens dos 10-19 anos, do que adultos dos 60-69 anos. Isto é algo completamente novo e apoiou a decisão do encerramento das escolas.
A do Sul de África chamada B1.351 foi originalmente detetada em outubro de 2020 e tem algumas mutações iguais às da inglesa. Talvez por isso também seja mais agressiva nos jovens.
Aliás, o Ministro da Saúde da África do Sul, Zweli Mkhize, revelou que a descoberta desta nova estirpe se deu quando se reparou que havia maior proporção de doentes mais jovens, sem comorbilidades e com doença grave.
Esta descoberta foi feita pela Universidade do KwaZulu-Natal (KRISP) que sequenciou amostras de todo o país. A África do Sul é o país do continente africano mais afetado pela pandemia.
Já foi detetado em Portugal pelo menos um homem com esta estirpe, que viajava da África do Sul.
A brasileira, de Manaus, P.1, tem mutações adicionais que foram detetadas em dezembro de 2020.
Tem duas mutações que a tornam mais perigosa. Uma que a torna 50% mais transmissível e outra que parece defendê-la dos anticorpos que nós já possamos ter, permitindo uma reinfeção como se fosse uma nova infeção (parece que a da África do Sul também tem esta mutação).
Ainda não chegou a Portugal, mas é uma possibilidade a cada dia que passa. Em França já foram detetados quatro casos.
Ainda há várias coisas para explicar. Porque é que estas estirpes se transmitem mais rápido de pessoa para pessoa?
Será que respondem da mesma forma à terapêutica que as outras estirpes de COVID-19?
Será que alteram a efetividade da vacina?
O melhor mesmo é ficarmos resguardados. Por enquanto, a comunidade científica aguarda novos artigos com novidades sobre estas estirpes.
As recomendações para se proteger das novas variantes são exatamente as mesmas utilizadas para o vírus inicial.
– Use máscara em espaços públicos fechados e na rua quando não for possível manter o distanciamento físico;
– Lave as mãos frequentemente;
– Evite tocar nos olhos e na cara;
– Espirre e tussa para a dobra do cotovelo;
– Descarte com segurança os lenços que usar para se assoar ou espirrar;
– Mantenha o distanciamento social;
– Mantenha-se em teletrabalho;
– Conviva em bolha e de preferência apenas com os membros do seu agregado familiar.
As explicações são da médica Ana Isabel Pedroso, Assistente Hospitalar de Medicina Interna no Hospital de Cascais.
Em N.N. – Sapo.pt