ACNUR só tem 5% dos recursos que precisa para plano de apoio a Moçambique

7/03/2024 14:01 - Modificado em 7/03/2024 14:01
@Lusa

O alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados disse hoje que só garantiu 5% dos 400 milhões de dólares necessários para responder à crise de deslocados provocados pelos ataques terroristas e desastres naturais no norte de Moçambique.

Infelizmente, não está bem financiando”, admitiu Filippo Grandi, em declarações aos jornalistas em Pemba, capital da província de Cabo Delgado, após visitar campos de reassentamento de populações deslocadas, em fuga aos últimos ataques terroristas, reforçando o apelo ao apoio internacional.

O líder do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) avançou que os ataques terroristas na província, desde 2017, já provocaram cerca de 1,3 milhões de deslocados e que 780 mil pessoas permanecem fora das aldeias de origem, apesar de 600 mil já terem regressado.

Só a última vaga de ataques terroristas em Cabo Delgado, segundo as organizações das Nações Unidas, provocaram 100 mil deslocados no mês de fevereiro.

O alto comissário admitiu que conflitos mais mediáticos que ocorrem noutros locais condicionam a canalização de verbas para o plano de apoio a Cabo Delgado, em 2024, que envolve “esforços conjuntos” com outras agências.

“Infelizmente, a situação de Moçambique talvez não seja a mais visível”, apontou Grandi, numa conferência de imprensa conjunta com o conselheiro especial do secretário-geral das Nações Unidas para Soluções às Pessoas Deslocadas Internamente, Robert Pipe, e a presidente do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) de Moçambique, Luísa Celma, que marcou o fim da visita a Cabo Delgado.

“Se não tivermos todos os recursos que necessitamos, infelizmente teremos que fazer menos” acrescentou, assumindo, no entanto, a necessidade de mobilizar mais recursos para conter a crise humanitária no norte de Moçambique.

Na quarta-feira, o alto comissário visitou deslocados de um dos centros de acolhimento de Mueda, único distrito da província de Cabo Delgado que até agora não registou ataques, na última vaga de movimentações de grupos terroristas, desde dezembro. Visitou ainda Mocímboa da Praia, onde se inteirou dos projetos em curso para reabilitar algumas infraestruturas destruídas pelos insurgentes, até 2021.

Depois de vários meses de relativa normalidade nos distritos afetados, Cabo Delgado tem registado, há algumas semanas, novas movimentações e ataques de grupos rebeldes, que têm limitado a circulação para alguns pontos nas poucas estradas asfaltadas que dão acesso a vários distritos.

O ministro da Defesa Nacional moçambicano, Cristóvão Chume, confirmou em 29 de fevereiro ataques de insurgentes em quatro distritos da província de Cabo Delgado, mas garantiu não se tratar “de um recrudescimento” das atividades terroristas no norte.

“Não é isso que está a acontecer, porque se fosse efetivamente isso, estaríamos a dizer que há distritos ou sedes distritais que estão ocupadas, sem acesso das populações. O que aconteceu é que há grupos pequenos de terroristas que saíram dos seus quartéis, lá na zona de Namarussia – que temos dito que é a base deles -, foram mais a sul, atacaram algumas aldeias e criaram pânico”, disse Cristóvão Chume.

O governante, que falava aos jornalistas, em Maputo, após um encontro com uma missão de alto nível da União Europeia, garantiu que a situação em Cabo Delgado “continua estável, não obstante as últimas ocorrências no sul da província”.

“Como se sabe, algumas aldeias nos distritos de Quissanga, Metuge, Ancuabe, Chiùre, sofreram alguns ataques, que originaram um deslocamento da população mais a sul, para a província de Nampula, e também para outros distritos de Cabo Delgado”, reconheceu.

De acordo com o ministro, é preciso apostar em programas de desenvolvimento para “minimizar o risco de radicalização” e “prevenir a reemergência do terrorismo”.

Ainda assim, alertou: “Não queremos dizer com isso que não há ocorrências de terrorismo, há sim. E nós vamos continuar a combater, mas não há de voltar a acontecer o que aconteceu no passado. Nós estamos firmes nisso, mas vamos assistir a situações como estas que aconteceram em Chiùre, em Metuge, e outras zonas, de haver alguns ataques que não poderemos evitar”.

Lusa

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