Entrevista com Carlos Araújo – Quer apostar na autonomia da ilha de São Vicente

10/01/2024 12:26 - Modificado em 10/01/2024 12:26

Entrevista com Carlos Araújo – O homem da autonomia

Carlos Araújo vai candidatar-se à Presidência da Câmara Municipal de São Vicente, neste ano de 2024 e entre as bandeiras defendidas pelo candidato está autonomia da ilha e das ilhas. 

Para ele, o poder autárquico tem que trabalhar em harmonia com os demais poderes. “Na Câmara é que a vontade do povo se transforma em lei” e acredita que  a democracia não acontece apenas através dos partidos políticos, por isso a opção de concorrer às eleições com uma candidatura absolutamente independente com foco num propósito.

NN: A sua bandeira é a autonomia das ilhas, porquê?

Carlos Araújo (CR) – Por que ela representa uma organização  mais correta para as ilhas de Cabo Verde. É um salto qualitativo e quantitativo na democracia, que vai trazer envolvimentos mais responsáveis e controlados bem como uma melhor produtividade ao transformar as ilhas em centros de produção e de rendimentos. Para além doutros, esse simples passo trará vantagens enormes no domínio da saúde pública.

NN – Como pretendem lutar para  a autonomia?

CA – Temos uma estratégia que não é mais que um plano de ação para atingir a autonomia. É tudo muito simples: conquistar a Câmara e colocar à frente dela um administrador não só capaz como bem acompanhado por uma forte equipa. Preparar as instituições para funcionarem de forma autônoma e sempre direcionados na procura de produção e riqueza. Isto é, organizar e harmonizar todos os serviços deixando ao presidente e a sua equipa a tarefa de negociar a melhor autonomia capaz de servir os interesses das ilhas e de CV.

NN – Mas a Câmara está sujeita às leis que gerem o municipalismo?

CA – Vamos caminhar sempre dentro da lei mesmo sabendo que o corpo de leis existente já não está adequado às nossas necessidades. Nos primeiros momentos o importante vai ser o funcionamento e não o organigrama. Daí a necessidade de uma equipa de alto nível e de bom senso. Com o tempo o velho corpo de leis vai ter de morrer para renascer num novo corpo de há muito exigido pela nossa gente.

NN – E enquanto esse novo corpo de leis não estiver em funcionamento?

CA – Iremos ter duas Assembleias, sendo uma visível e outra invisível. Só assim poderemos contar com a participação e engajamento de todas as instituições e dos bons quadros.

NN – Dá para explicar um pouco melhor? As instituições e os bons quadros fazem parte da assembleia invisível? O presidente, os vereadores e o administrador como funcionarão ?

CA – A assembleia invisível será constituída por :

a)      todas as instituições existentes na ilha.

b)      A assembleia visível ou eleita.

c)       Quadros e elementos da população de reconhecida competência em áreas determinadas.

NN  E o presidente, os vereadores e o administrador?

CA – Todos têm assento e são membros de pleno direito na Assembleia invisível.

NN – É o parlamento do povo, diz então.

CA – Exatamente

NN -Poderia falar-nos um pouco mais sobre a autonomia? É economicamente viável? Que tem a ver com a saúde pública?

CA – Em primeiro lugar, a autonomia é uma solução e não um problema para a economia. Todos sabemos que as organizações abertas funcionam melhor que as fechadas e que elas, as organizações abertas, necessitam de uma certa dose de autonomia.

O Estado de Cabo Verde apoderou-se de uma organização fechada cuja consequência é este eterno enfraquecimento e incapacidade de encontrar os caminhos do desenvolvimento. Uma autonomia bem planeada e elaborada não tem custos e só traz desenvolvimento e riqueza para todos: Sublinho o para todos.

NN – Não se referiu a saúde pública?

CA – E é esta, a meu ver, a parte mais importante. Todos os seres vivos necessitam de uma certa dose de autonomia para que possam nascer, crescer e morrer num ambiente saudável. É ela que permite o aparecimento de uma sociedade aberta capaz de nos proporcionar a riqueza e a felicidade da liberdade.

As ilhas são seres vivos e possuem uma mente, a mente colectiva. Sem autonomia essa mente definha e morre e com ela a mente dos indivíduos. Suicídios, drogas, depressões…

NN – Mudando de assunto, como pretendem lutar contra aquilo que apelida de máquinas partidárias?

CA – Seguramente não será com dinheiro, mas temos armas poderosas e estamos a ensinar a população a utilizá-las.

NN – Quais são essas armas?

CA – Ainda não vou avançar mais detalhes.

NN – Dificuldades?

CA – A negatividade dos mindelenses, a tendência para uma crítica de bares com toda a sua não ação, a incapacidade de criar ou mesmo aceitar novos pressupostos e uma comunicação social perdida de amores pelo poder ou, quem sabe, vítima do poder a que está prisioneiro. Vamos ter de libertar a comunicação social.

NN – Facilidades?

CA – Um povo que já não quer saber dos partidos, que está sedento da sua autonomia e sobretudo é chegado o momento da mudança. Temos um povo bonito e precisamos estar à sua altura. No seio do povo profundo vamos ganhando asas e confiança.

NN – Perspectivas?

CA – Ganhar a Câmara com maioria absoluta. É preciso que seja assim.

NN – Já tem uma equipa?

R – Ainda não, ela está a se formar.

NN – Há muitas dificuldades?

CA – Algumas, mas menos do que esperava.

NN – Como assim?

CA – É algo que deriva das facilidades e dificuldades anteriormente elencadas bem como das exigências das mudanças preconizadas. A tudo isso deve-se acrescentar o medo e a noção das prioridades.

Como já deve ter entendido estamos perante um processo revolucionário que só pode ser preconizado por pessoas com raciocínios fora de caixa, como se diz modernamente. A mudança que se pretende perturba ainda as mentes educadas, organizadas e respeitadoras do sistema.

NN – O que quer dizer com pessoas com raciocínios dentro de caixa?

CA – Sim, mas sobretudo pessoas que apesar das preocupações e mesmo amor que têm para o povo e as ilhas, não estão ainda aptas a sentirem a verdadeira compaixão indispensável à ação.

NN – No seio do povo profundo vamos ganhando asas e confiança. Permita-me pegar nessa frase que disse há pouco para fazer uma última pergunta: E no seio dos quadros e dos jovens?

CA –  Apesar das dificuldades enumeradas, a aceitação é grande, a compreensão é boa e a equipa vai-se formando. A equipa que precisamos vai ter de estar a altura da Assembleia invisível. Quanto aos jovens, que representam uma grande fatia do eleitorado, não pensamos neles como um voto. Pensamos neles como a força motriz da nossa ilha pelo que os queremos ver organizados e representados na Assembleia invisível, bem assim a diáspora e a terceira idade.

Comente a notícia

Obrigatório

Publicidades
© 2012 - 2024: Notícias do Norte | Todos os direitos reservados.